Ao contrário do que se concebe normalmente, o espírito da acumulação e da ambição por lucros não provém do advento do capitalismo, mas é seu principal fator desencadeador. Tal visão empreendedora se difundiu na sociedade e tornou-se presente em todos os grupos e classes, sobretudo entre aqueles que queiram sobreviver no mercado. Mesmo assim, percebe-se , neste amplo meio social, diferenças ao lidar com tal espírito do capitalismo.
Isso se aplica, por exemplo, às particularidades dos posicionamentos dos católicos e dos protestantes em face da obtenção e da acumulação do capital. Suas origens religiosas e alguns resquícios que ainda se fazem perceptíveis revelam o embate entre as duas religiões, como por exemplo as diversas formas de lidar com o trabalho e os diferentes significados da ascensão social nas suas vidas.
Alheios às coisas mundanas e materiais, os católicos relacionam a acumulação de capital à ganância e ao desvio de caráter, o que é visto com reservas, uma vez que podem comprometer sua ascensão ao céu e a obtenção de uma vida eterna, conforme as crenças da Igreja católica. Neste sentido, a ascensão social está relacionada, predominantemente, à satisfação das necessidades reais e, uma vez obtida, para os católicos, não se faz necessária uma maior acumulação, o que, em geral, acaba afastando-os de uma visão empreendedora.
Em contrapartida, os protestantes possuem muita racionalização e dinamização dos investimentos. Ocorre, na verdade, uma racionalização da fé, pois eles associam a acumulação de capital à ideia de virtude e eficiência. Enquanto para os católicos a riqueza nada mais é do que anti-ética e anti-cristã, para os protestantes, é um reflexão de uma boa conduta moral e religiosa, um indício de que os religiosos estão agindo conforme as leis divinas e correspondendo as suas expectativas. Assim, os protestantes mostram-se mais inclinados ao empreendedorismo e aos investimentos; para alcançar seu intento, não medem esforços quanto ao desempenho de funções mais simples até as mais sofisticadas.
Percebe-se, portanto, que a reforma protestante, ao invés de afastar o controle religioso da vida social, intensificou-o, criando um cenário propício para a racionalização da fé. Guiados por uma visão racional, os protestantes situam-se em maior expressão nas camadas mais abastadas por todo o mundo, conforme indica Max Weber na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo.
O espírito do capitalismo , como se vê, está presente nos diversos agrupamentos humanos e engendra embates culturais e religiosos, contrapondo a racionalização da fé da ética protestante à busca dos católicos pelo desapego das coisas mundanas que possam comprometer sua salvação.
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