Sempre que falamos do brasileiro enquanto
povo, ou dos problemas do Brasil, lembramos daquelas frases já tão conhecidas:
“é o jeitinho brasileiro...”; “todo país tem seus problemas, o problema do
Brasil é o brasileiro”; “até poderia funcionar, mas nós estamos no brasil”; “o
brasileiro devia ser estudado pela NASA” ... entre tantas outras que batem
nessa tecla do brasileiro como malandro, que não sabe seguir as regras ou que,
para fugir a ordem, apostam na baderna. É como se o brasileiro fosse único e
típico, afastado da logica que rege o mundo e isolado nessas terras, como se
nunca tivéssemos sido colonizados ou forçados a uma adaptação ao mercado internacional.
Mas essa narrativa criada não representa a
realidade. O autor brasileiro e sociólogo pesquisador, Jessé José Freire de
Sousa, em sua obra “A ralé brasileira – quem é e como vive”, fala sobre isso, e
da necessidade de romper com essa forma de isolar o brasileiro do mundo se
apoiando na bengala do jeitinho brasileiro, uma perspectiva culturalista que
nos isola. Isso porque a repetição de falácias, como a de que o Brasil não dá
certo por estar cheio de brasileiros, ganha consonância na fala do outro, se
legitimando e se tornando realidade; é a ação social weberiana.
O que acontece no Brasil é o mesmo que no
resto do mundo. Estamos sob o regime do mercado capitalista e somos controlados
pelo Estado da minoria, dos poderosos. O alerta de Jessé de Sousa é sobre,
justamente, o perigo de culpar a cultura brasileira; de tentar se apagar e
refletir o que é visto nas nações exemplo, como os Estados Unidos, Alemanha e
Japão. É como se, quando repetimos os estigmas colocados sobre nosso povo,
estivéssemos nos enrolando numa corda que nós mesmos trançamos, caindo na
armadilha que nós mesmo armamos.
É assim que se engendra a ideia de que o
povo brasileiro é pobre e miserável, e de que isso é culpa do operário, da
empregada doméstica, do caminhoneiro..., da ralé, que não se esforça pelo bem
do país, que não busca estudo, que não quer melhora. E em paralelo, exaltamos a
imagem de políticos, de empresários, de grandes fazendeiros e de figuras da
mídia, que se esforçam tanto pelo bem do país. É por não enxergarmos a realidade
do Brasil que caímos nessas enganações. Quem construiu esse país foi o negro,
foi o índio, foi a mulher foi o pobre, e não a elite privilegiada que se
sustenta pela exploração do outro, do fragilizado.
A dificuldade de se compreender o Brasil
foi construída, por isso tentar compreendê-lo é uma tarefa tão complicada.
Porque para isso, temos de ser capazes de enxergar com clareza o que acontece
no Brasil, o que somente será possível após nos desvelarmos da visão de mundo
que nos foi imposta pelo sistema. Mas como fazer isso? Talvez pela educação,
trazendo mudanças graduais para o pensamento do brasileiro, ou talvez
devêssemos fazê-lo de forma mais radical, forçando uma mudança imediata. Mas
independente de como será feito, deve acontecer, e deve-se respeitar dessa vez
a existência e a vontade do povo no processo, sem novamente impô-los
ideologias.
Rodrigo
Beloti de Morais
1º
Ano – Noturno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário