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terça-feira, 7 de setembro de 2021

O avesso do mesmo lugar

Entender o Brasil de hoje não é uma tarefa fácil. O país é uma soma de dimensões geográficas continentais, uma multitude de culturas e realidades socioeconômicas e uma formação histórica turbulenta que desemboca na realidade que buscamos compreender.

De início, tem-se a formação identitária brasileira como uma colônia totalmente dependente e subserviente a Portugal, com divisão de classes claramente estabelecida e que atinge o ápice da segregação com a instituição da escravidão como política pública. 

O processo de independência do Brasil foi um dos únicos do mundo que transformou um regime colonial em um regime monarquista e que foi arquitetado e praticado pelas elites políticas e econômicas dominantes - formadas, quase que em sua totalidade, pelos mesmos grupos. Grupos esses que, em benefício próprio, ao mesmo tempo que clamavam por liberdade faziam de tudo para que o regime escravocrata permanecesse uma realidade.

Após séculos de opressão institucionalizada por uma administração pública pautada no patrimonialismo, a forma como a abolição da escravidão foi realizada nos mostra a quem o Estado brasileiro servia. O último país do ocidente a abolir o regime escravista, sem qualquer tipo de respaldo aos escravizados e que buscou incessantemente ressarcir os escravocratas pela “mão de obra” perdida. 

Esses processos agravaram o abismo entre as classes sociais brasileiras de tal modo que podem ser identificados como a origem de muitos problemas que circundam a distribuição de renda e a divisão de classes atualmente. A elite brasileira de outrora e a elite brasileira de agora são, se não as mesmas, extremamente semelhantes. A intersecção e o repasse hereditário dos poderes econômicos e políticos se mantém presente na realidade do país. Como consequência disso, as classes que sustentam a base da pirâmide social pouco se modificaram nos cinco séculos da história brasileira.

A  permanência dessas instituições seculares como controladoras do poder econômico e político no país mostra que o patrimonialismo continua vivo, mesmo que de maneira mais sutil, construindo e perpetuando a ideia do “jeitinho brasileiro” de ser e de fazer. 

Essa, claro, é apenas uma das faces de uma realidade extremamente complexa. Porém, compreender o papel que as instituições político-econômicas têm na construção da imagem do país e de seus habitantes é essencial para que se analise a realidade de forma completa. É necessário entender que a construção da identidade brasileira é resultado de uma série de processos históricos e que, apesar de termos percorrido um caminho longo, não estamos muito distantes do ponto de partida.


História Pra Ninar Gente Grande / Samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira (2019)

“Brasil, meu nego/Deixa eu te contar/A história que a história não conta/O avesso do mesmo lugar/Na luta é que a gente se encontra [...] Desde 1500/Tem mais invasão do que descobrimento/Tem sangue retinto pisado/Atrás do herói emoldurado/Mulheres, tamoios, mulatos/Eu quero um país que não está no retrato”


Victoria Dote Rozallez da Costa
Direito Matutino Turma XXXVIII

 

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