Dificilmente alguém poderia compreender nossa complexa sociedade e todas suas nuances por mais que dedicasse a vida a tal, no entanto, podemos encontrar algumas interpretações durante a tentativa. Como, por exemplo, ao deparar-se com a situação do país nesse 7 de setembro de 2021, que deveria ser a comemoração da Independência do Brasil, na qual, porém, observamos desde cidadãos defensores do retorno do AI-5 às pessoas de classes baixas e marginalizadas manifestando-se a favor de causas que se voltam contra sua própria existência. Mas, por quê? É o questionamento que ronda minha mente sempre que me deparo com tais ocorrências. A resposta pode não ser imediata e facilmente visualizada quando analisamos a esfera individual, porém, adentrando as instituições sociais, que são os pilares para a formação da consciência do indivíduo, encontramos um possível caminho para a interpretação.
Segundo Max Weber, as instituições sociais podem promover dois tipos de socialização: a primária, que advém dos primeiros contatos sociais humanos, como a família ou a igreja, estas são responsáveis pelo estabelecimento das regras sociais e valores morais básicos; e a secundária, com base em instituições pré-estabelecidas, como a escola, o trabalho ou até mesmo o Estado, sendo estes os responsáveis por estabelecer os conceitos mais específicos da sociedade, ao exemplo da propriedade ou a ordem social e financeira. Entretanto, ocorre dessas instituições serem dominadas pelas crenças e morais da classe dominante, propagando-as e garantindo sua permanência. Por esse motivo, é comum observarmos a classe média baixa lutando por valores que apenas beneficiam a elite, uma vez que estes sempre foram lhes apresentados como os ‘bons valores”, que formam o “cidadão de bem”, enquanto a burguesia, obviamente, defenderá até a morte aquilo que a mantém no poder.
Ou seja, as instituições nos ensinam desde o momento em que somos lançados ao mundo o trabalho compulsório atrelado ao sistema de meritocracia, afinal, “Deus ajuda quem cedo madruga” e nos apresentam aquilo que deveria ser considerado “normal”, como a heterossexualidade ou até o capitalismo. Uma vez que, por um acaso, já conheceu alguém que precisou se assumir heterossexual para a família? Ou já ouviu sobre protestar a favor da “escola sem partido” quando a ideologia sendo propagada é a liberal? Duvido muito, pois, tudo isso está enraizado no nosso pensamento como aquilo que é o correto, o inquestionável, sendo necessária uma luta diária para quebrar esses paradigmas tanto individualmente, quanto socialmente.
Por fim, quando retornamos à análise do porquê de tanta
gente batalhar lutas contra a própria existência em protestos absurdos,
precisamos ampliar nossos horizontes para além do indivíduo, do preconceito
sobre o “brasileiro não ter salvação” e buscar mudanças dentro das instituições
já existentes, trabalhando também em fortalecer aquelas que promovem a
igualdade em direitos e lutam pelas minorias. Não podemos esmorecer nem perder
as esperanças, por mais difícil que seja, não deixaremos o barulho deles
ensurdecer a voz da nossa luta e quando formos as ruas será com a consciência
de saber pelo que estamos lutando e as consequências das nossas reivindicações.
“As pessoas não são más,
Elas só estão perdidas
Ainda há tempo”
- Criolo, Ainda Há Tempo.
- Isabela Batista Pinto,
Direito Matutino- Turma XXXVIII
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