Historicamente, a
relação entre o homem e a razão é tema frequente de discussões. É habitual
relacionar os períodos em que a humanidade deixou de lado a racionalização do
pensamento a períodos escuros e de trevas, em que o conhecimento verdadeiro foi
sabotado e monopolizado. Da mesma forma, frequentemente associa-se o uso da
razão aos períodos de progresso e desenvolvimento do mundo. O problema é que
essa visão foi fortalecida ao longo do tempo, e atualmente observam-se muitas
sociedades lutando freneticamente pela racionalização de todas as esferas do
cotidiano. No entanto, questiona-se: seria esse, de fato, o melhor caminho a
ser seguido pela humanidade?
Em
sua obra O Discurso do Método, René
Descartes discorre sobre o uso da razão como forma de explicar o mundo, em um
período em que grande parte do conhecimento se embasava em princípios
filosóficos e abstratos. Sua intenção era a de indicar que as verdades e
concepções obtidas através de quaisquer outros métodos, como a superstição ou a
paixão, não seriam sólidas.
Porém, o que se nota no
momento atual é que a ideia de racionalização da vida pode ter ido longe
demais, atingindo domínios nos quais a passionalidade possui um papel decisivo
e extremamente importante – a decisão de constituir uma família, por exemplo,
que não muito tempo atrás dependia basicamente do desejo dos envolvidos em
fazê-lo, hoje depende muito mais da análise de caracteres econômicos, políticos
e sociais. Decisões racionalizadas como essa fazem parte de contextos
passionais, e por isso não deveriam somente levar em consideração o pensamento,
mas também o sentimento.
Assim,
é possível verificar a necessidade em desacelerar e abrandar a aplicação da
razão como solução de todos os problemas – o mundo contemporâneo demanda não
somente que o homem seja racional, mas também que saiba lidar com as
adversidades de forma humana, de maneira a considerar a vida como muito mais do
que um problema matemático a ser resolvido de forma lógica. Mais importante
ainda que isso é saber valer-se de cada um dos comportamentos nos contextos
mais adequados.
Heloísa Ferreira
Cintrão
1º ano –
Direito (Diurno)
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