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sábado, 18 de abril de 2015

O crescimento do ateísmo e a influência do racionalismo.

            Rene Descartes, com o Discurso do Método, lança uma das maiores premissas da ciência moderna: o racionalismo. No contexto da revolução cientifica, momento no qual a ciência se separa da filosofia, o autor francês critica o modelo clássico e eclesiástico de uma ciência de caráter contemplativo, e propõe uma ciência com fins práticos, de caráter transformador, que se adeque a realidade do homem moderno.
            Outro ponto fundamental na obra de Descartes é a relação da razão com Deus. Para analisa – la, é importante deixar de lado a visão contemporânea que ciência e religião não podem concordar, tendo em mente que o autor era um homem do século XVII, num momento em que a influência da igreja era muito grande – mesmo com algumas mudanças no período Renascentista – e a não crença em Deus era algo inimaginável. No Discurso do Método, Descartes afirma com convicção a existência do criador, o que não é, de fato, paradoxal: o próprio autor justifica que somente um ser perfeito, de razão superior, seria capaz de propiciar a razão ao homem. Além disso, na Bília diz – se que Deus fez o mundo para domínio do homem (Gênesis 1:28), sendo a partir da ciência que ele compreende a obra divina e se aproxima de Deus. Dessa forma, Descartes atrela a própria verdade a Deus.
            A evolução do racionalismo, no entanto, fez com que as ideias de Descartes pudessem parecer contraditórias – apesar de não o serem. Isso porque foi a partir da razão que o homem desenvolveu, por exemplo, a teoria do Big Bang e a Teoria da Evolução, que Charles Darwin (1809 – 1882) publica em A Origem das Espécies, de 1859. Essas obras negam um dos dogmas da igreja católica, segundo o qual “Deus criou o mundo a partir do nada”, inaugurando uma linha em que a fé é vista como ausência de conhecimento científico. Essas teorias, além da física quântica (inaugurada por Max Planck no século XX, que é totalmente alheia a física clássica), levaram a humanidade a um racionalismo exacerbado, presente em correntes como a positivista (na qual Augusto Comte defende como estado positivo aquele que busca explicações científicas sobre todas as coisas, visando o conhecimento absoluto e liberto da metafísica) e a comunista (na qual Karl Marx defende abertamente um estado ateu, que leve o racionalismo as suas últimas consequências).
            O fato pode ser relacionado ao crescimento do ateísmo nas últimas décadas. No Brasil, em 1960, 93% da população era católica. Em 2010, o número caiu para apenas 60%. É claro que deve – se considerar também a mudança para outras religiões, mas é uma mudança expressiva: os ateus foram de 0,6% para 8% da população brasileira. Nos países mais ricos o crescimento é ainda maior: cerca de 75% da religião sueca é ateia, mesmo com o ensino básico de todas as religiões sendo obrigatório nas escolas. O Japão, que poderia ser classificado pela corrente de Augusto Comte como sociedade positiva, também tem mais da metade de sua população afirmando não se identificar com qualquer religião.
            Ultimamente, a igreja vem tentando a adequação a realidade contemporânea, tentando chamar atenção principalmente do público mais jovem (no qual mais cresce o ateísmo). Exemplo disso é a teoria do Design Inteligente, que reformula a teoria criacionista numa tentativa de modernização, mas ao mesmo tempo contestação da teoria evolucionista. Ela defende que o simples fato da vida existir tal qual ela é, em toda sua complexidade, não pode ser mero acaso. Podemos aproximar a teoria do Design Inteligente as ideias de Descartes, uma vez que ele visava provar pela ciência a existência de Deus.
            A análise de que os países mais desenvolvidos – portanto, aqueles com maiores avanços científicos – distanciam – se da religião é bastante empírica (apesar de existirem pesquisas que relacionem o QI dos indivíduos com sua fé). Descartes, ao defender o racionalismo, de certo não pretendia esse afastamento da religião. No entanto, há fundamento para acreditar que ele defenderia a tentativa de aproximação das religiões com a ciência, voltando a suas ideias de que a razão justifica a fé.


Heloisa Areias
1º ano de Direito - Diurno
Introdução a Sociologia - Aula 2 

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