Ao longo do século XVII ascendia a classe social que, para Marx, foi revolucionária em seu caráter de aspirações civilizatórias globais: a burguesia. Não mais apenas empenhando-se na compra e venda comerciais, a burguesia passa a empreender e estender fronteiras na sua busca pelo lucro e acumulação de capitais, erguendo consigo o primeiro sistema econômico de face mundial, o capitalismo. Era preciso, para tanto, que não houvesse limitações geográficas ou biológicas para a extensão dessa civilização global, ou seja, era preciso submeter a natureza aos homens por meio do conhecimento científico, para que estes a dominassem e manipulassem a seu favor.
É neste contexto de racionalidade burguesa que se insere René Descartes, filósofo e matemático francês que propôs-se a analisar e discutir o novo papel da filosofia e da razão na sociedade moderna, compilando em sua obra Discurso do Método as etapas de organização do pensamento científico que lhe permitiram ser conhecido como o pai da filosofia moderna por toda a posteridade.
Para Descartes, as novas necessidades humanas implicam o abandono do conhecimento meramente contemplativo e reflexivo para a adoção de um metódo científico que permita o emprego da razão prática, que exerça uma função ao homem ou produza algo; conceito também trabalhado por Max Horkheimer, séculos depois, e denominado razão instrumental. Não mais apenas conhecer o mundo, o novo papel a ser desempenhado pela ciência era o de transformá-lo com bases em conhecimentos factuais e comprovados, daí a rejeição cartesiana a quaisquer ciências sobrenaturais (tais como a alquimia e a astrologia), adornos meramente transcendentais e à própria filosofia clássica que, em suas palavras, “um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações”.
Fazer ciência era, para o filosófo, acima de tudo aproximar-se de Deus, uma vez que conhecer o mundo seria desvendar Sua obra, e, portanto, tal ciência e suas descobertas deveriam ser exatas. Descartes, então, elabora um método científico capaz de concretizar o desígnio divino aos homens e buscar a Verdade; o qual compreende como pilares a Dúvida Hiperbólica - duvidar sistematicamente de tudo e jamais aceitar como verdadeiro algo que não claramente o fosse; a compartimentação dos saberes para uma melhor análise aprofundada de cada parte de um objeto estudado em questão; o procedimento de condução de pensamentos do micro para o macro, em ordem de complexidade; e, por fim, o estabelecimento de relações e revisões metódicas entre os conhecimentos para a constante atualização e aprimoração destes.
É possível afirmar, por fim, que Descartes revoluciona o método científico até então aplicado ao tornar pragmático o emprego da razão, possibilitando à humanidade alcançar maiores avanços e superar mais limites - fossem eles naturais ou sociais - do que haviam feito seus antepassados durante milênios.
Gabriella Di Piero
1º ano de Direito - Diurno
Introdução à Sociologia, Aula 2
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