Se há algo custoso ao típico cidadão contemporâneo, esse algo é se convencer de que umas e outras durante o correr da vida prescindem de resoluções não simplesmente racionais, metódicas e descuidadosamente ponderadas. É certo também que tal dificuldade se dá, principalmente, pelo fato de que todos na sociedade foram nascidos, criados e ensinados sob enorme influência dessas concepçõezinhas que reduzem as experiências do viver a meros raciocínios simplistas. A utilização dessa conduta, porém, exige que o material expressivo-emocional que necessariamente compõe o ser humano (e com isso me refiro às lágrimas, risos, gritos, gemidos e afins) não seja estimulado e nem desenvolvido, relegando-o pois, a uma situação de atrofia e contenção. Não é preciso nenhum diploma de especialização em assuntos psíquicos para afirmar que talvez aí esteja o gérmen primordial que tanto frutifica os transtornos psicológicos tão comuns nos tempos contemporâneos. Como uma gangrena que se alastra pelos tecidos e danifica a integridade corporal, o trauma consequente da paralisação da atividade emocional passa a corromper a vitalidade plena da consciência do indivíduo e, desse modo, são disseminadas no meio social as ansiedades, depressões e demais angústias oriundas de repressões do fator emocional.
Entretanto, caro leitor, a humanidade não se intimida ante tal estímulo - tanto assim que a mais acessível solução para os já citados distúrbios vem da forma mais concisa, compacta e prática possível: em pílulas e comprimidos. Esse resultado, por sua vez, fora concebido através da brilhante lógica de que seria necessário racionalidade para curar a irracionalidade causada pelo excesso de racionalidade. Seguimos, dessa forma e com a benção de Descartes, obtendo nossa cura racionalizada nas drogarias mais próximas, enquanto a canção Emotional Rescue, do Rolling Stones, serve como um melancólico plano de fundo em nossas trajetórias.
André Rodrigues Pádua - 1° ano Direito diurno
Introdução à Sociologia, aula 2
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