Era uma tarde gélida e meio caótica em meados de julho de 1985. Um mundo totalmente positivista, todos viviam sob ordem e progresso. Um homem está sentado a beira da calçada refletindo acerca de seu passado, mas chega um amigo seu e lhe cumprimenta.
-Amigo! Como tem passado esses dias frios?
-Nossa que prazer imenso te encontrar por aqui, os dias não tem sidos muito bons, mas a gente tenta relevar as situações ruins...
Logo após uma longa conversa, se despedem e vão seguir seus rumos.
O homem caminha até a biblioteca e tenta escolher um livro, mas todos são de histórias maçantes, criticas duras acerca da realidade, e nenhum deles se permite a escrita de uma ideia fantasiosa, a ficção nesses tempos, é estritamente proibida.
-Como se pode? -indagou o homem ao bibliotecário. Não se pode mais ser criativo, não se pode mais escrever sobre o que se pensa ou acredita, tudo é baseado nesse tal método, positivismo... o que se tem de positivo nisso?
-Meu amigo, você está enganado, lembre-se do nosso lema, ordem e progresso, as ideias são liberais, mas todas sob a ótica positivista, só assim poderíamos atingir tantas coisas boas na ciência.
-Mas o que é a ciência, se não uma indagação da própria realidade? Uma forma abstrata de pensar que possibilita tantas histórias e tantas outras ciências, porque toda essa bagunça de ordem, não há nada de bom.
-Eu não entendo amigo, como não consegue enxergar o quanto o método é bom e revolucionário? Todas as culturas unidas em uma só, não há espaço para discriminação já que somos todos iguais.
-Mas isso é um tanto contraditório, se não há espaço para diferentes tipos de pensamentos, o pensamento em si se torna algo extremamente redundante, não tem coisa nova
O homem desiste de argumentar e sai apressado da biblioteca, como num ato de tentar escapar daquela realidade. Ele decide ir para casa e deitar-se, acaba pegando no sono e começa a sonhar...
No seu sonho, ele vê um mundo em caos completo, indivíduos enfileirados, todos presos por grossas correntes, ele caminha até a fila e avista um ser no fim da fila com um chicote na mão açoitando os pobres coitados.
Ei! você! – disse o sujeito com o açoite na mão – Quem lhe deu permissão para andar livremente desse jeito? Não vê que o único caminho é nesse sentido, sempre pra frente, vamos, ande, não tenho tempo a perder com você.
-Espere, o que está acontecendo? Essas pessoas... elas não conseguem perceber que isso tudo é errado??
-O que você está dizendo? – disse uma voz no meio da fila – a gente tá aqui por conta própria, o nosso líder sabe o melhor pra gente, ele nos açoita, mas é para o nosso bem, só assim vamos saber o caminho certo a seguir, ordem e progresso sempre.
A mente do homem começa a colapsar, ele começa a delirar e sai correndo em direção ao vazio daquele sonho. De repente ele acorda assustado e levanta de súbito da cama. Vai correndo olhar a janela, e ver se não está mais naquele sonho. Ele então percebe que foi tudo coisa da cabeça dele, o mundo daquele sonho era todo caótico e cheio de ordem, o que era totalmente contraditório um lema daqueles. Ele observa o movimento da rua pela janela, e pensa “não seria possível que meu mundo pudesse ficar daquele jeito... será que eu tive uma premonição?’’
Gabriel Ferreira - Noturno
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