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segunda-feira, 25 de abril de 2022

   oɐ̰ɔɐıɹɔ ɐ ǝ soɐɔ o

  No início, só havia o Caos: na mitologia grega, esse deus primordial representava a origem, a Criação; o princípio fértil e engenhoso da desordem. Essa alegoria do caos enquanto um mecanismo de renovação pode ser facilmente transposta para realidade quando se observa as subversões do ordenamento social provocadas pelas grandes revoluções ao longo da História: da Revolução Francesa à Revolução Russa, a desestruturação e ruína deram lugar a novas concepções e modelos de vivência, partindo do caos como princípio para a criação. Apesar desse conceito de renovação contínua da vida e da sociedade se manifestar das mais diversas formas ao longo dos séculos, essa ideia de quebra da ordem nem sempre é compreendida como natural ou adequada: Auguste Comte, filósofo da teoria positivista, parte do pressuposto de que a Humanidade deve reconhecer suas limitações e se contentar em definir a realidade a partir do empírico e verificável, construindo a partir disso um ordenamento sistemático e útil que deve ser preservado em uma busca pelo progresso

  Nesse sentido, faz-se necessário explorar a insuficiência dessa teoria em sua tentativa de explicação e definição do real. É evidente que tentar equacionar a Humanidade, definindo-a a partir de uma simples relação entre os fenômenos, de forma a encontrar “leis” gerais como nas ciências exatas, mostra-se de uma grande ingenuidade sob uma análise contemporânea. Essa visão limitada de estabelecer que tudo que não é aparente não deve ser levado em conta pode ter sido uma ferramenta funcional nos primórdios do desenvolvimento da sociologia, estabelecendo parâmetros práticos de ciências já consolidadas, mas mostra-se ineficaz na atualidade em compreender uma realidade complexa, de diversas demandas étnicas, sociais e de gênero das diferentes culturas que coexistem.

O problema central da questão explicita-se na permanência do pensamento positivista, ultrapassado em séculos, na gênese da sociedade brasileira. Com uma forte base positivista durante a formação do imaginário republicano nacional, há uma clara confusão entre moral e pragmatismo: o que é de mais simples compreensão a partir do ordenamento social estabelecido, representando apenas uma faceta mais evidente da expressão em sociedade, é considerado como um fundamento moral absoluto, do qual os desviantes são vistos como “subversivos". Essa visão preguiçosa e simplista da existência de uma realidade única reforça preconceitos e violências contra minorias e movimentos sociais diversos, em uma tentativa de reprimir o “desviante”. Assim, os problemas abundam: não se enxerga a instabilidade e insatisfação como uma oportunidade de melhora e renovação, mas sim enquanto um desvio ao que já foi consolidado e, portanto, uma ameaça ao progresso.

  Portanto, se a ordem pode ser castradora e um instrumento de repressão, o que é considerado subversão e caos pode, na verdade, conter uma semente de liberdade e criação. A simples existência de grupos minoritários e de movimentos que os defendem já indica avanços na questão de direitos e, portanto, na construção de uma sociedade mais igualitária. O simbolismo do caos, no fim, representa a renovação necessária e natural às demandas e às vivências humanas.


Isabella Neves- matutino, 1° semestre

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