Na obra teatral “Eles não usam black-tie”, do dramaturgo e ator Gianfrancesco Guarnieri, observamos diversas características que a unem ao pensamento positivista.
Ambientada no final dos anos 50, uma problemática se instaura no contexto social dos personagens: uma greve está prestes a estourar.
Pai e filho, empregados numa mesma fábrica, exemplificam dois opostos; o primeiro, um homem sindicalista, um dos cabeças da greve; o segundo, um homem preocupado com as proporções que o movimento operário poderia alcançar.
O positivismo é a busca constante por progresso, mas que tipo de progresso? Ora, não estamos falando do progresso na vida de um operário pobre e morador do morro; estamos falando do progresso dos grandes, a ininterrupção do acúmulo de riquezas e, acima de tudo, a conservação desses padrões sociais.
Tião, o filho, se vê em um dilema, apoiar o pai e os companheiros de fábrica, desafiar o sistema, incentivar a transgressão do status quo, ou manter seu emprego, rejeitar a greve e não desafiar seus superiores. Além de tudo, a esposa de Tião está grávida, como iria se expor de tal forma? Precisava do dinheiro, de sua estabilidade.
Do outro lado, temos Otávio, o pai, um homem consciente, revolucionário, justo. Otávio sabe e testifica tudo que está errado, testemunha o descaso com os trabalhadores e torna-se peça principal da greve.
Um grande aspecto da teoria positivista é a “solidariedade”, novamente retorno a pergunta, que tipo de solidariedade? Também não estamos falando da solidariedade de nos sensibilizar com os problemas sociais de nossos companheiros, não é solidariedade a ponto de lutarmos pelos direitos daqueles que são pequenas pecinhas nesse grande mecanismo industrial; é a solidariedade em prol dos mais poderosos, continuar a progredir para que esse grupo nunca saia do alto da “cadeia alimentar social”. Que coisa mais dicotômica, não?
Tião, solidário aos interesses daqueles que estão acima, fura a greve. Não podia fazer parte daquilo, da transgressão, da violação da moral. Otávio vai preso, quebrou a norma, deturpou o sentido de harmonia positivista.
A linha tênue entre conservar e melhorar embasa todo o positivismo, mas tudo depende das lentes que você usa para visualizá-lo. A sua ótica é positivista ou revolucionária?
Ana Beatriz Cordeiro Santos - 1º semestre de Direito (noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário