O positivismo de Comte tem um objetivo essencial para a desenvoltura de seu pensamento: a ordem, para ele o progresso da sociedade só pode ser conquistado através da organização social. Ele constrói a sociologia como uma ciência exata, analisando e observando o que ele considera concreto e trabalha a partir dessas informações coletadas, utilizando-as para definir a organização social que o positivismo requer para evoluir. A partir disso, percebe-se o importante lugar que o ser humano ocupa no corpo social, pois - além de integrá-lo e torná-lo existente - é ele que tem a função de manter essa ordem, pois a organização buscada por Comte cria um padrão, que precisa ser seguido por todos para ter estabilidade.
Assim começam os conflitos. O padrão defendido pelo positivismo exige um comportamento normativo dos cidadãos de determinada civilização, um comportamento que por vezes não é compatível com todas as pessoas que integram a sociedade, mas que para o positivismo deve ser seguido mesmo assim. Uma sociologia como essa necessita de um apoio coletivo muito grande, ela requer que o homem coloque o bem-estar social acima do seu próprio, o que para Comte não deveria causar tantos conflitos de opiniões, já que a sociedade é anterior ao indivíduo e apenas ela deve importar, um posicionamento que me faz lembrar da definição de “amor próprio” de Jean Jacques Rousseau.
Rousseau trouxe um pensamento diferente de outros filósofos de sua época, pois também acreditava que a sociedade deveria vir em primeiro lugar, tanto que define que o sujeito que tem amor próprio é egoísta por fazer mais caso de si mesmo que dos outros, enquanto o que tem amor de si mesmo é o que preza por ele sem fazer descaso da humanidade, mas a ideia dele e a de Comte de individualidade fazem com que seus pensamentos se afastem em questão de semelhança. Enquanto Rousseau defende a soberania social de modo que crie um espaço mais igualitário - acabando com a propriedade privada, por exemplo -, Comte espera que os cidadãos mudem para se adequarem ao normativo.
Isso gera uma outra concepção de egoísmo. A defesa de que cada um ocupe um lugar pré estabelecido na sociedade que é inerente ao humano como pessoa leva-os a ter atitudes egoístas, pois ter características (que muitas vezes nascem com os homens) diferentes das consideradas normais faz com que a harmonia positivista seja abalada e manter essas características automaticamente torna-se egoísmo.
Essa é uma ideia que não está distante de nós, é visível que ela é muito presente na comunidade em que vivemos, já que, além da frase na própria bandeira do Brasil ser um ditado positivista, o condenamento que pessoas que não se adequam aos padrões sociais ocorre ininterruptamente. O não seguimento das expectativas investidas no indivíduo antes mesmo de ele nascer gera frustração coletiva, mas é injusto atribuir a culpa dessa frustração a quem fugiu das normas, pois não foi ela que criou noções irreais sobre o comportamento adequado ao cidadão.
Logo, é visto que a subversão dos papéis sociais incomoda, mas o egoísmo criado por tentar se ajustar a um local que não é seu continua existindo, afastando os ideais de ordem do positivismo e transformando a sociedade.
Beatriz Moraes Rodrigues de Oliveira - matutino
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