Francis
Bacon, fundador do método indutivo de investigação científica, foi um dos
assíduos críticos da Filosofia Grega, escolástica e renascentista. Nesse
sentido, a partir de uma análise empirista, Bacon propõe uma reforma do
conhecimento, preterindo a lógica aristotélica, a qual não apresentava uma
noção segura científica. Sob esse
cenário, o filósofo afirmava que a existência de ídolos, ou seja, falsas noções
intrínsecas na psique humana, intensificava a inércia da racionalidade humana,
impedindo seu efetivo progresso. Traçando um panorama comparativo com a
realidade contemporânea, pode-se citar a disseminação de “fake news”, tendo em
vista que essas notícias falsas não só constituem o imaginário humano,
corroborando a alienação e a vulnerabilidade à manipulação, mas também impedem
a obtenção de um conhecimento verídico e validado pela racionalidade. A exemplo
disso, é imprescindível salientar o caso relacionado às vacinas contra a
COVID-19, no qual o negacionismo, fundado por notícias falsas, foi a gênese de movimentos
antivacina no Brasil.
Segundo Francis Bacon, os ídolos podem ser divididos em
quatro aspectos, sendo eles: os ídolos da tribo, os ídolos da caverna, os
ídolos do foro e os ídolos do teatro.
Primeiramente, os ídolos da tribo constituem a própria
natureza humana, originando-se nos preconceitos, limitações e em supostas
verdades absolutas. Sendo assim, os ídolos da tribo simplificam as noções
racionais e reduzem o complexo ao simples e, por consequência, concebem as
irredutíveis superstições. Para elucidar essa definição de Bacon, é possível
citar o caótico cenário pandêmico, no qual os indivíduos adotavam a equivocada
premissa de que as vacinas que combatem a COVID-19 poderiam findar em
resultados nefastos, invalidando seu verdadeiro propósito preventivo. Nesse
viés, o movimento antivacina solidificou-se devido aos negacionistas ídolos da
tribo (“fake News”), os quais foram instigados por indivíduos imprudentes que
exercem influência sobre a população brasileira, tendo como lamentável
resultado a morte de mais de 600 mil pessoas. Sob essa óptica, é notório
ressaltar como a humanidade fica sujeita à manipulação e aos danosos efeitos
das notícias falsas.
Outrossim, os ídolos do foro correspondem à tendenciosa
arte de manipulação em massa por meio das palavras. Desse modo, a ambiguidade é
promovida pelas distorções e pelas abstrações, as quais estão presentes em discursos
proferidos por oradores parciais que, impiedosamente, manipulam seu público. Transpondo
para o paradigma real, é possível enfatizar o irresponsável comportamento dos
indivíduos que, sob um amplo domínio e influência, utilizaram das palavras para
pregar não só uma visão deturpada da vacina, mas também para preterir a
relevância da pandemia e do isolamento social. A exemplo disso, pode-se citar
alguns líderes influentes que, a partir das notícias desvinculadas da
veracidade, negligenciaram as irreversíveis consequências da COVID-19, tal como
fez Jair Bolsonaro, o Chefe de Estado brasileiro, durante 2020 e 2021.
Portanto, o cenário pandêmico pôde elucidar o contexto
redigido por Francis Bacon, evidenciando como a humanidade ainda está
vulnerável aos ídolos e às suas falsas concepções de realidade. Logo, os homens
ainda possuem um forte vínculo com os ídolos concebidos pela sociedade,
comprovando que a humanidade é facilmente manipulada pelas notícias falsas e
não possui autonomia suficiente para refutá-las e alcançar o conhecimento
verídico e racional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário