“A
mulher viu que a árvore era boa ao apetite e formosa à vista, e que essa árvore
era desejável para adquirir discernimento. Tomou-lhe do fruto e comeu. Deu-o
também a seu marido, que com ela estava e ele comeu. Então abriram-se os olhos
dos dois e perceberam que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e se
cingiram.” (Gn 3, 6-7).
O excerto bíblico supracitado é o
recorte de uma narrativa de cunho mítico que, nesse trecho, dispõe-se a
explicar a norma social da utilização de roupas. Trata-se de algo tão
intrínseco ao nosso cotidiano que muita vez deixa-se de refletir a respeito da
importância que reside na simples existência desse hábito.
Emile Durkheim, milênios mais tarde,
vem cientificar esse tipo de pensamento. Para ele, as sociedades criam
mecanismos de coerção social, sob o qual estamos inseridos sem que, muita vez,
nem mesmo tomemos consciência disso: o Fato Social.
Para Durkheim, o Fato Social funciona
de forma semelhante à explicação bíblica do Gênesis. Como se nota na narrativa,
após a ingestão do fruto, é criado do interior dos indivíduos a consciência da
nudez e a necessidade da vestimenta. Essa consciência se cria, todavia,
coletivamente (tanto no homem como na mulher) e adquire o aspecto cultural da
hereditariedade. O conceito sociológico não é diferente: para Durkheim, somos
condicionados a agir de determinadas formas que nos enquadram à nossa
sociedade. Caso contrário, sofremos sanções. É o caso, por exemplo, das mulheres
que, na Idade Média europeia, não se adequavam aos padrões sociais: ganhavam o
estereótipo da bruxa, presente no imaginário coletivo até os dias hodiernos.
Eram isoladas socialmente e hostilizadas.
Vê-se, portanto, que a coerção coletiva
advinda do fato social parece ser um conceito real, presente em todas as
culturas que desde os tempos mais remotos tentam explica-lo. Trata-se de uma
consciência interiorizada, como o fruto ingerido, mas com imenso poder externo
sobre o indivíduo, qual a destra divina, capaz de nos exilar para sempre do
paraíso.
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