Num contexto de ruptura com a conjuntura europeia marcada pelos regimes absolutistas, tem-se um período de aurora da humanidade, tendo, contudo, a razão iluminista convertido a sua lógica de busca da liberdade e da emancipação numa racionalidade burguesa, essencialmente visando a obtenção de privilégios de classe - para os burgueses, obviamente.
Diante disso, surge o socialismo primitivo, pregado, por exemplo, por Saint-Simon e Fourier, o qual, longe de captar a verdadeira essência da nova ordem, fazia uma interpretação errônea, no sentido de compreender os motivos que levaram o iluminismo a falhar no seu objetivo, como se a ordem burguesa fosse um desvio da natureza humana. Por preconizar a libertação de toda a humanidade, e não apenas de uma classe, esse pensamento soava como um idealismo utópico para Engels.
Ele referia-se de maneira crítica aos primeiros socialistas por estes acreditarem que a natureza humana se inclinava à solidariedade, que só era necessário que os homens despertassem esse valor para conviverem em complementação mútua, sem egoísmos. Engels já enxergava que seria muito dificil a burguesia deixar seus interesses de lado em função da coletividade, já que essa postura era intrínseca à dinâmica de mercado vigente. Ele se posicionava contrariamente ao socialismo primitivo em nome da necessidade de entender de fato a realidade material em sua totalidade de modo a construir-se uma proposta científica.
Engels propõe em sua obra "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico" uma forma de superação das condições impostas pelo sistema capitalista, eliminando as desigualdades entre classes sociais. Tendo que a base de uma sociedade está calcada no seu modo de produção, a estruturação desta, constituída sobre o capitalismo, é marcada pela exploração através do mecanismo da mais-valia e, consequentemente pelos extremos de miséria e riqueza em diferentes polos - o dos produtores e o dos proprietários das máquinas. Por se desvencilhar o trabalhador daquilo que ele produz, ele se torna alienado e submetido às condições impostas pela situação dessa dialética motora da sociedade: a da luta de classes permanente, condição básica das relações dominadores x dominados.
Era preciso, portanto, através da identificação das leis da História, compreender-se as contradições inerentes a esse sistema capitalista para ser possível instituir-se o socilalista, o qual, por sua vez, buscaria maior isonomia entre as classes a fim de que, além disso, as forças produtivas se convertessem para o bem do produtor, do trabalhador. Esta seria uma forma de extinguir-se o Estado, tomando a liberdade o lugar da necessidade.
Para-se para pensar... essa proposta deixou de fato de ser utópica? Engels tanto criticou os socialistas primitivos por causa da falta de aplicabilidade de suas ideias, mas se analisarmos bem todo o percurso necessário para a concretização do que ele pregava, nos deparamos com diversas mudanças e passos grandiosos ainda pela frente. Soa então, como mais uma tentativa revolucionária de sair do "lugar-comum" idealista, voltando, justamente por tanto querer fugir dele, a um caráter utópico.
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