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domingo, 6 de setembro de 2020

A Vida que Mereço


Acordo assustada com o barulho do despertador. Sete horas da manhã. A luz do sol penetra meu pequeno apartamento pelos buracos da cortina, preciso trocá-la já faz alguns meses. Me levanto e começo a me preparar para enfrentar minha rotina mais um dia.

Ouço um barulho. Na janela, pousa um passarinho, um belo canário de penas amarelo escuro. Ele anda pelo parapeito da janela, cantando e alguns segundos depois ele voa mundo afora. 

- Liberdade. - murmuro para as paredes cinzas e nuas do apartamento, enquanto observando o pássaro se afastar no horizonte.

Gostaria de ser livre como esse canarinho, mas preciso ir trabalhar. Por quê? Tenho que confessar que não sei porque trabalho no prédio vermelho do escritório de advocacia na Rua Weber. Eu odeio aquele lugar. 

Na verdade, eu escolhi fazer advocacia. Mamãe dizia que eu seria bem sucedida se fizesse faculdade de direito, e repetiu isso até o fim da sua vida. Se ela me visse agora, morreria de novo de desgosto. Chegando aos 35 anos, apartamento velho e imundo, sem namorado e longe de ter filhos, e boletos atrasados se acumulando na mesa da cozinha. 

Mas ando pensando no porquê escolhi essa vida, no porquê preciso dessas coisas para me sentir realizada. Será que sou só mais uma vítima da sociedade? Será que as ações que tomei são justificadas pelo mundo deturpado em que vivemos?

 Claro que não. Eu queria colocar a culpa da minha vida miserável na sociedade, como esses vitimistas da Esquerda que vejo todos os dias na internet fazem. Mas não, eu escolhi essa vida. É essa vida que eu mereço.

Visto meu casaco, pego minha bolsa e vou, mais um dia, trabalhar pra receber o meu salário. E receber o meu salário pra pagar as minhas contas. E pagar as minhas contas para me manter alimentada e sob um teto. E tudo isso pra eu viver e acordar mais um dia, pra trabalhar e receber meu salário.


Pedro de Miranda Cozac - Direito Matutino






 

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