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domingo, 18 de março de 2018

Comte e os seguidores da loucura

É inegável que a filosofia de Auguste Comte, pensador francês do século XIX e autor do livro "Curso de Filosofia Positiva", influenciou, em sua época, a obra de intelectuais dos campos mais diversos, sendo fundamental para a formação da sociologia como ciência. A influência do Positivismo de Comte estende-se até mesmo ao lema de nossa bandeira, uma adaptação da máxima "Amor como princípio, ordem como base e progresso como meta", que resume sua doutrina.
Tendo em vista a visibilidade atingida pelo pensamento comteano, é necessário atentar-se para a controvérsia que, com ele, nasceu. Para muitos, Comte era um gênio e visionário. Para outros, transtornado mentalmente. O economista austríaco Ludwig von Mises afirma "Comte pode ser desculpado, já que era louco no completo sentido com que a patologia emprega este vocábulo. Mas como desculpar os seus seguidores?"[1]
Voltemos, novamente, à Bandeira. O lema de Comte nela expresso, promovendo a "ordem" (isto é, a presença forte ou repressora do Estado) como necessária para o "progresso" (isto é, o desenvolvimento da sociedade), remete a um período da história nacional: a Era Militar, regime ditatorial sob o qual o país viveu de 1964 a 1985, que teve como características marcantes a censura dos meios de comunicação, a repressão e a tortura de presos políticos, e que se promovia como responsável pelo "Milagre" econômico vivido durante sua vigência.
A relação entre a filosofia de Comte e a ditadura vivida no Brasil torna-se mais clara tendo em mente a forte adoção do Positivismo pela camada militar da população brasileira, desde o século XIX até os tempos atuais. A própria consolidação da República em nosso país teve influência de tal pensamento, encarnado na figura de Benjamin Constant, um militar.
A controvérsia gerada pelo pensamento positivista é compreensível, dados tais fatos. Em um cenário atual no qual governantes conservadores, com propostas de governo que tendem ao autoritarismo, ganham força no mundo, e uma parcela (ainda que minoritária) da população brasileira clama pela volta de uma Ditadura Militar, os ideais de Comte se fazem presentes na mente de muitos, e fica difícil não simpatizar com a citação de von Mises.








[1] Ludwig von Mises, Ação Humana, Alabama 1998, pp. 72 (The Ludwig von Mises Institute, Scholar's Edition).

Lucas de Araujo Ferreira Costa - Turma XXXV - Matutino

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