Marielle Franco – vereadora, ativista e mulher negra – foi morta a tiros dentro de um carro na região central do
Rio de Janeiro. Antes do trágico ocorrido, a vereadora havia participado de um
evento chamado “Jovens Negras Movendo as Estruturas” cujo objetivo era a
compartilhar experiências pessoais sobre a vivência de uma mulher negra na
sociedade e debater a questão da resistência e do engajamento social. Nesse
contexto, partindo de uma perspectiva comtiana, esse movimento mostra uma
ruptura da ordem vigente e o possível atentado contra a vida da vereadora, uma
ferramenta para o reestabelecimento dessa ordem.
Ao longo dos séculos, a ordem vigente era escravocrata na
qual homens e mulheres negros eram tratados no mesmo parâmetro de um objeto, ou
seja, não havia a consideração como cidadãos. A quebra desse sistema aconteceu
no âmbito legal, mas isso não foi uma quebra de fato, pois a forma como o negro
era tratado dentro das instituições permaneceu a mesma. Instituições como a do
poder coercitivo, a polícia, abordam e tratam de maneira desigual indivíduos da
cor preta. Nesse cenário, surgem ativistas, como Marielle Franco, que tentam,
por meio de protestos, quebrar essa ordem, com o objetivo de conquistar a
igualdade entre os cidadãos, como previsto no artigo 5° da Constituição Federal.
Na questão positivista, o fato dela ser mulher já implica em
outro processo de desiquilíbrio. A família, uma das instituições estáticas,
possui uma conjectura patriarcal na qual a mulher possui um papel subalterno em
relação ao homem, além de ter o dever de cuidar da casa e dos filhos. Sendo
assim, Marielle Franco desequilibrou uma instância da ordem, pois o processo de
emancipação da mulher fere essa instituição.
Além disso, a ativista por ter entrado no poder legislativo
ruptura mais um parâmetro. No contexto histórico, o poder legislativo,
judiciário e executivo sempre ficaram na posse de uma elite branca e masculina,
“os aptos” para levarem a nação ao progresso, pois detinham o conhecimento,
fundamental em uma estrutura positivista. No entanto, com a vitória de Marielle
Franco–negra, pobre e mulher– nas urnas houve o que Comte chama de
desordem, pois para chegar a tal lugar, Marielle usufruiu de programas sociais
(ProUni), algo que o positivismo não concorda.
Sendo assim, seguindo a premissa positivista que está no
pensamento social, o progresso da nação ocorrerá com a manutenção da ordem.
Isso se sucede mantendo as estruturas sociais, isto é, a função social de cada
indivíduo, não importando as condições degradantes ou as possibilidades e
oportunidades de escolha, deverá permanecer a mesma, a não ser que o indivíduo
ascenda socialmente usando os próprios recursos. Logo, tudo que for contra esse
sistema, como empoderamento feminino e engajamento social, será considerado
contra a ordem, necessitando de ferramentas para reinstaurar o equilíbrio.
Nesse caso, houve a morte de uma ativista.
Joelson Vitor Ramos dos Santos - Matutino, Turma XXXV
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