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domingo, 18 de março de 2018

Um Mundo Assombrado por Comte

Para o Positivismo, a utilidade de algo se resume apenas no uso imediato; ou seja, não há a ideia de que uma criação poderá ter um valor imensamente superior em um futuro relativamente distante. Uma consequência disso, se vê ainda hoje, nas verbas para pesquisa da comunidade acadêmica brasileira.
Comte, não mediu esforços em sua prepotente crença de que a sociedade estava próxima ao pináculo da evolução cientifica, portanto, caberia a ciência purgar todas as crenças metafísicas que incrustavam o pensamento cientifico, purifica-lo e unifica-lo para alcançar um novo estágio social, o estado positivo.
Entretanto, a crença fundamental na utilidade, limita o pensamento cientifico mais do que o expande. Se, no início do século XIX, uma equipe com os melhores cientistas do mundo fosse reunida, com recursos e tempo ilimitados, para criar um aparelho capaz de transmitir imagem e som por transmissores sem fio, é altamente improvável que desenvolvessem um televisor. O televisor, aparelho de altíssima utilidade, não poderia ser desenvolvido sem as equações de Maxwell, criadas na década de 1860; porém, Maxwell, não desenvolveu estas equações por buscar utilidade alguma, mas sim por ‘’puro prazer matemático’’ como dito em suas memórias.
Como visto, a utilidade não precede a criação (não se cria algo para preencher uma lacuna, sem ter formas de se criar tal coisa), portanto, a repetição do mantra que levou a maior parte do povo brasileiro a considerar a comunidade cientifica como um gasto inútil, exceto quando apresentam criações que mesmo sem utilidade prática alguma, possuam forte apelo à utilidade; como no caso ilustre da fosfoetanolamina, que prometia ser um elixir contra o câncer, mas seu desenvolvedor sequer sabia que não existe ‘’o câncer’’, mas sim os canceres, pois se trata de um conjunto de mais de oitenta enfermidades diferentes.
O fantasma de Comte, continua a assombrar o mundo, que rechaça os pesquisadores que geram as bases para grandes avanços, mas celebra as grandes empresas que usam estas bases para avançar o tão adorado progresso. O efeito disso é devastador: congelamento de gastos na educação, corte de verbas para a pesquisa e o sucateamento das universidades brasileiras, o que leva ao êxodo dos pesquisadores tentados por melhores oportunidades no exterior. A fé positivista, que supostamente deveria ser focada na ciência, na verdade é um fanatismo pela utilidade que sufoca, sobretudo, a própria ciência.
O abandono desta crença é fundamental para o desenvolvimento do país, pois ela está fazendo com que os governantes e o povo, vejam somente o último degrau de uma longa escadaria, ignorando completamente as pesquisas de base em todas as áreas. Somente com a apostasia desta ‘’fé na ciência’’, a comunidade cientifica poderá entregar os frutos de seu árduo trabalho para a sociedade.   

Caíque Barreto da Silva – 1 Ano — Matutino

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