Para
o Positivismo, a utilidade de algo se resume apenas no uso imediato; ou seja,
não há a ideia de que uma criação poderá ter um valor imensamente superior em
um futuro relativamente distante. Uma consequência disso, se vê ainda hoje, nas
verbas para pesquisa da comunidade acadêmica brasileira.
Comte,
não mediu esforços em sua prepotente crença de que a sociedade estava próxima
ao pináculo da evolução cientifica, portanto, caberia a ciência purgar todas as
crenças metafísicas que incrustavam o pensamento cientifico, purifica-lo e
unifica-lo para alcançar um novo estágio social, o estado positivo.
Entretanto,
a crença fundamental na utilidade, limita o pensamento cientifico mais do que o
expande. Se, no início do século XIX, uma equipe com os melhores cientistas do
mundo fosse reunida, com recursos e tempo ilimitados, para criar um aparelho
capaz de transmitir imagem e som por transmissores sem fio, é altamente
improvável que desenvolvessem um televisor. O televisor, aparelho de altíssima
utilidade, não poderia ser desenvolvido sem as equações de Maxwell, criadas na
década de 1860; porém, Maxwell, não desenvolveu estas equações por buscar
utilidade alguma, mas sim por ‘’puro prazer matemático’’ como dito em suas
memórias.
Como
visto, a utilidade não precede a criação (não se cria algo para preencher uma
lacuna, sem ter formas de se criar tal coisa), portanto, a repetição do mantra
que levou a maior parte do povo brasileiro a considerar a comunidade cientifica
como um gasto inútil, exceto quando apresentam criações que mesmo sem utilidade
prática alguma, possuam forte apelo à utilidade; como no caso ilustre da
fosfoetanolamina, que prometia ser um elixir contra o câncer, mas seu
desenvolvedor sequer sabia que não existe ‘’o câncer’’, mas sim os canceres,
pois se trata de um conjunto de mais de oitenta enfermidades diferentes.
O
fantasma de Comte, continua a assombrar o mundo, que rechaça os pesquisadores
que geram as bases para grandes avanços, mas celebra as grandes empresas que
usam estas bases para avançar o tão adorado progresso. O efeito disso é
devastador: congelamento de gastos na educação, corte de verbas para a pesquisa
e o sucateamento das universidades brasileiras, o que leva ao êxodo dos
pesquisadores tentados por melhores oportunidades no exterior. A fé positivista,
que supostamente deveria ser focada na ciência, na verdade é um fanatismo pela
utilidade que sufoca, sobretudo, a própria ciência.
O
abandono desta crença é fundamental para o desenvolvimento do país, pois ela
está fazendo com que os governantes e o povo, vejam somente o último degrau de
uma longa escadaria, ignorando completamente as pesquisas de base em todas as
áreas. Somente com a apostasia desta ‘’fé na ciência’’, a comunidade cientifica
poderá entregar os frutos de seu árduo trabalho para a sociedade.
Caíque
Barreto da Silva – 1 Ano — Matutino
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