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segunda-feira, 19 de março de 2012

Descartes e o "Zeitgeist" do Século XXI

Descartes e o “Zeitgeist” do Século XXI
Sem dúvida Descartes revolucionou o que é considerado ciência. Mas como seu legado influencia a contemporaneidade? Existem muitos relatos de sua contribuição à humanidade e ao modo de pensar atual. Contudo, a aplicação da teoria de René nos dias de hoje é compatível com a concepção que o estudioso relatou em sua obra?
Primeiramente, é necessária a análise de alguns dos aspectos do legado do Filósofo. Descartes considera que o conhecimento em sua época muitas vezes não tinha aplicação prática e que partia somente de discussões ou devaneios de filósofos. Outro ponto fundamental é a crítica ao hábito, ao não questionamento e à alienação. Estes seriam pedras no caminho para adquirir o saber. Ataca a superstição e as doutrinas impostas pelos mestres.
Para extirpar todos esses empecilhos à obtenção da verdade, propõe o “Método”. O conhecimento que se tinha pelo hábito deveria ser testado, não somente para comprovar sua eficiência, mas também para entender-se como ocorria essa eficiência. O que não pudesse ser provado seria superstição. Da mesma forma, os ensinamentos dos antigos mestres seriam postos à prova, pois decorrentes de discussões filosóficas, não tinham como base o empirismo, mas, sim, conjecturas pessoais. E por fim, defende a sistematização dessas conclusões de forma que sejam facilmente compreendidas e aplicadas no mundo real.
Reconhece-se muito do “Método” em nossa era, no entanto, existem alguns pontos a serem criticados. Não foram tão bem aceitas as teorias cartesianas ao ponto de não mais serem questionadas?
Por exemplo, enquanto o pensador reconhece a importância dos conhecimentos angariados com a filosofia, hoje é uma matéria pouco prestigiada no ensino. E não é somente o governo que é o culpado, afinal foi o próprio que incluiu novamente a matéria no currículo. As pessoas também questionam a aplicação prática e como o trabalho ocupa a maior parte do tempo dessas pessoas, a contemplação e a maiêutica decorrentes da dialética filosófica se perdem.
Criou-se um novo hábito: o de acreditar no que os especialistas dizem. Por não ter uma visão geral do conhecimento, a sociedade se torna refém da informação prestada pelos profissionais e, sem o privilégio da dúvida, a aceitam.
Por último, ocorre o processo de desumanização do saber, isto é, uma tecnificação da população, na qual os meios não são mais ponderados para se atingir um fim, a tecnologia se volta para fins pessoais e não coletivos, a especialização exagerada torna a massa ignorante e justamente por essa “libertação” que a ciência pura promove, os seres humanos se tornam práticos, andróides.
            Ao fim dessa análise, vê-se que pontos fundamentaisde “O Discurso do Método”, foram aplicados de forma exagerada e outros acabaram sendo esquecidos, justamente pelo processo de fundamentalização da teoria. Portanto, é necessário realizar uma constante avaliação do meio para não nos tornarmos vítimas de um processo que em seu cerne era libertador.
Raul da Silva Carmo. Aluno do 1º Ano do Curso de Direito Noturno da UNESP Turma 2012-2016.

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