Rene Descartes afirma em seu livro ‘'Discurso do método’’
que, para o homem obter a verdade sobre uma ideia, ele deve se despir de
qualquer tipo de pré-conhecimento ou preconceito que tenha sedimentado em seu
senso, analisando tal ponto com uma ótica extremamente racional, dando o
qualificativo de verdadeiro somente quando não houver mais dúvidas sobre tal. Sua
obra, de cunho extremamente racionalista, inaugurou a filosofia moderna e
trouxe inovações em vários os campos do conhecimento humano.
Descartes acreditava que a razão deveria permear todos os
domínios da vida e que a fé não deveria mais ordenar as relações humanas. Tais
pensamentos parecem aceitáveis nos dias atuais, mas em pleno século XVII
poderiam ser vistos como extremamente ofensivos.
O próprio Descartes busca em sua obra uma explicação
racional para a existência de Deus. Mas se o homem deveria encarar o mundo despido
de pré-conhecimentos, de onde viria tal ideia? Segundo Rene, ela é inata e reside
dentro da própria razão humana. Para ele a ideia de perfeição não poderia vir
da imaginação, dos sentidos. Tal ideia, porém, precisa ter uma origem e,
segunde ele, esta origem está num ser que a causa e, sendo este ser perfeito,
ele seria o que conhecemos como Deus.
Mas não estaria o próprio Descartes munido de um
pré-conhecimento ao desenvolver tal teoria? A ideia de perfeição não precisa
ser necessariamente implantada por algum ser no homem, ela poderia ser fruto sim
da imaginação humana ou ter uma origem cultural, parecendo ser inata quando na
verdade ela apenas foi “implantada”.
Não é difícil
entender a necessidade que Rene Descartes tinha em provar a existência de Deus
quando se enxerga o contexto em que ele viveu. No início do século XVII a
Europa passava pela ferrenha luta entre cristãos e protestantes (reforma e
contra reforma) e a França ainda estava sob forte influência da Igreja Católica.
Um livro que pedia para despir-se de tudo o que se era ensinado até então e
para duvidar de qualquer ideia já existente poderia ser visto com péssimos
olhos.
Ainda sim, muitos pontos tragos por Rene Descartes em seu “Discurso
do método” mostram-se extremamente atuais e aplicáveis, só devemos antes, como
ele mesmo indica, analisar muito bem qualquer ideia antes de tomá-la como
verdadeira.
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