Inerentemente metafísico
Há uma
correlação inegável entre um fenômeno social e uma ideologia de base que o
sustente. Assim sendo, o positivismo seria a corrente que apoiou a evolução do
progresso industrial e científico em seu apogeu. Apartando de si a metafísica e
a teologia Comte propõe uma forma empírica de conhecimento e de comportamento.
Para Comte o
estado positivo da sociedade seria aquele onde o que importa não é o porquê dos
fatos, mas sim o seu desenrolar, o fato em si, o como esse fato afeta na ordem
das coisas e estabelece leis físicas e humanas.
A dimensão
moral no positivismo difere totalmente da moral religiosa vivenciada no período
histórico anterior. Comte preocupa-se com o equilíbrio da pessoa humana,
equilíbrio segundo ele que só seria atingido se o homem vivesse bem com seus
semelhantes (altruísmo) e tivesse uma harmonia pessoal através do cultivo da
mente (ideias).
Percebe-se na
teoria positivista um certo utilitarismo na visão dos fenômenos. Ao
preocupar-se somente pelo resultado, pelo pragmático, esquecendo o porquê, a
razão de ser das coisas, Comte descarta um aspecto inexorável dos entes
materiais. Instrumentaliza-se a vida, os aspectos individuais e subjetivos da
existência humana.
É contraditório, porque é nossa racionalidade,
e tão somente ela, o elemento que leva o ser humano a ter um questionamento
metafísico da realidade. Somos os únicos seres com necessidade de transcender,
de entender os motivos, e de buscar avanços através de nossos questionamentos.
Seguindo essa linha de raciocínio seria inerente e inclusive uma
responsabilidade da humanidade ir sempre mais além daquilo que é pragmático.
Esse
pragmatismo instrumentaliza a sociedade, nos converte em uma massa inerte que
vale pelo que faz e não por aquilo que é. Isso está impregnado na nossa cultura
em seus mais variados âmbitos. Quando estamos falando da humanidade jamais
podemos nos esquecer que há uma dimensão muito mais profunda, que toca o
santuário sagrado de sua individualidade e dignidade. Não somos simples entes
materiais, possuímos um grau de ser superior que imputa ao ser humano um
questionamento metafísico e racional da realidade.
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