Quem quer
manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
Quem quer criar desordem?
É seu dever
manter a ordem?
É seu dever de cidadão?
Mas o que é criar desordem,
Quem é que diz o que é ou não?
São sempre os mesmos governantes,
Os mesmos que lucraram antes.
Os sindicatos fazem greve
Porque ninguém é consultado,
Pois tudo tem que virar óleo
Pra por na máquina do estado.
É seu dever de cidadão?
Mas o que é criar desordem,
Quem é que diz o que é ou não?
São sempre os mesmos governantes,
Os mesmos que lucraram antes.
Os sindicatos fazem greve
Porque ninguém é consultado,
Pois tudo tem que virar óleo
Pra por na máquina do estado.
Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
Quem quer criar desordem?
“Desordem” – Titãs
Essa tão esperada ordem discutida pelo francês Augusto
Comte no começo do século XIX ainda se torna atual nos dias de hoje. Afinal,
qual seria a definição de ordem em mundo com tantas diferenças e tantas
desigualdades? É evidente que a idéia de ordem faz jus aos decretos do Estado,
que como elemento máximo da nação impõe suas vontades ao cumprimento da
sociedade, afinal “tudo tem que virar óleo pra por na máquina do Estado”. Os
governantes de hoje, principalmente dos Estados capitalistas, preocupam-se em
manter a sociedade organizada de acordo com as suas ambições, para evitar
rebeliões, e continuarem com a mesma comodidade e conforto que sempre tiveram,
recebendo salários cada vez mais altos, enquanto a grande maioria da população
sofre com a falta de dinheiro, a falta de saúde, a falta de emprego, ou seja,
com a falta. Assim, a letra da música acima faz uma pergunta que deve ser
questionada: “Quem quer criar desordem?” A sociedade que vive aprisionada em
suas vidas sem auxilio estatal, ou o próprio Estado, que não faz nada para
mudar o alto nível de discrepância social vivenciado atualmente?
Comte afirmava que cada indivíduo desempenhava uma
função específica, e que era fundamental que esse indivíduo se mantivesse no
seu papel para dar continuidade ao funcionamento da sociedade e, dessa forma,
assegurar que a ordem fosse garantida. Dessa maneira, Comte justifica a
existência de todas as classes sociais e das mazelas existentes no mundo. O
positivismo compara a sociedade a um organismo biológico, no qual nenhuma parte
tem existência independente, assim, pode-se fazer um paralelo com as idéias
de Karl Marx, na qual a existência das classes sociais menos favorecidas é
justifica pela existência dos ricos. Comte tinha a ordem como valor supremo e
para ele era importante que as pessoas entendessem o valor da obediência e da
hierarquia. Ao contrário de Marx, que lutava por uma revolução do proletariado
para que os pobres pudessem alcançar uma vida melhor, Comte afirmava que cada
cidadão tinha que aceitar o seu papel dentro da sociedade, pois não importava
de que maneira, seja por repressão do Estado, ou injustiças, mas a ordem tinha
que ser garantida. De acordo com esse ideal de manutenção da ordem a qualquer
custo, novamente pode-se fazer um paralelo com as idéias de outro filósofo, Nicolau
Maquiavel, que afirmava que “os fins justificam os meios”, assim, não importam
os caminhos que forem adotados para se chegar a uma sociedade perfeita, a ordem
é de importância máxima e tem que ser alcançada a qualquer custo.
Sendo assim, “È seu dever manter a ordem? É seu
dever de cidadão?”. Até quando um cidadão deve aceitar o seu papel na sociedade,
seja ele bom ou ruim, em função de tal ordem utópica que põe em detrimento o
bem estar da população menos favorecida em função da continuidade perfeita da
máquina do Estado? Para Comte, o progresso só pode ser alcançado dessa maneira,
com uma sociedade organizada e hierarquizada, na qual cada indivíduo faz parte
da sua esfera social e não deve ambicionar uma condição de vida diferente da
sua. Assim, surge um questionamento inevitável: seria essa realidade Comteana,
uma forma de vida justa para todos os cidadãos ou somente para a classe
dominante?
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