O materialismo histórico dialético desenvolvido
pelos sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels diante da Revolução Industrial da
qual o mundo via-se mergulhado e que modificou profundamente tanto as relações
de trabalho quanto as relações pessoais, ao evidenciar a estrutura capitalista
fundamentada nas novas configurações de classe entre o proletariado e a
burguesia, ainda apresenta-se pertinente na análise da organização social contemporânea
diante da dominação e luta de classes. Assim, pretende-se, nesse método, propor
a revolução social de forma a subverter a ordem de exploração da mão de obra do
proletariado, pois, assim como defendeu Karl Marx: “as revoluções são a
locomotiva da história”.
Nesse
sentido, para os sociólogos, em uma sociedade pautada sob o viés da produção
material diante do trabalho, a classe operária determina-se como a grande
responsável por essa produção, mas que se vê excluída de garantias básicas como
a saúde e a educação, sendo usufruída pela burguesia detentora dos meios de
produção e da força do trabalho. Portanto, ao se considerar a realidade atual,
pode-se tomar como exemplo o movimento de paralisação da Federação Nacional dos
Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT), na qual os
grevistas reivindicam por direitos, principalmente trabalhistas, negligenciados
no atual contexto pandêmico e que, segundo a visão de Marx e Engels,
representam as relações de dominação impostas aos trabalhadores,
impossibilitados de deter o que é de seu direito, mas que, de certa forma,
buscam a revolução.
Ainda,
Richard Sennett, sociólogo contemporâneo, trata a partir de sua obra “A corrosão
do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” uma análise
do materialismo histórico dialético de Marx e Engels em razão das novas
estruturas de organização social diante das relações de produção na atualidade.
Assim, na visão dos dois sociólogos, a concepção dos indivíduos tal como eles
são é resultado das formas de manifestação da vida e dependem, também, das
condições materiais de produção, o que fundamenta a ideia de Sennett diante das
modificações sofridas em um contexto de mundo globalizado.
Por
isso, as relações de produção na contemporaneidade passaram por um processo de
flexibilização diante das novas estruturas da globalização, que facilitaram a
readequação industrial e a dinamização produtiva, por exemplo, marcadas pela hiper
competitividade do novo capitalismo. Entretanto, como consequência desse modelo
tem-se a descontinuidade do trabalho, do qual os indivíduos deslocam-se de
trabalho muitas vezes durante a vida, o que proporciona o esvaziamento das
relações pessoais já que não se torna mais possível criar laços intensos e duradouros
em períodos de aceleração e flexibilidade.
Dessa
forma, diante de um contexto da pandemia do novo coronavírus em que é necessário
readequações a nova realidade que necessita do distanciamento social, o home
office é uma das alternativas a continuidade do trabalho, sendo que, segundo
pesquisas da Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas
adotaram essa iniciativa na pandemia o que evidencia ainda mais as
possibilidades de flexibilizar as relações, mas, ainda, a falta de raízes.
Entretanto, nesse novo modelo, apesar da perda do contato e da substituição das
rotinas padronizadas, a dominação e centralização mantêm-se diante da
facilidade de comunicação nas tradicionais “cadeias de comando”.
Portanto,
partindo-se da análise do materialismo histórico dialético percebe-se a
constante luta de classes que ainda permeiam a realidade atual e que se
espelham nas relações sociais e de trabalho que se alteram a partir da forma de
produção da vida cotidiana. Ademais, ainda evidenciam a influência exercida
pela classe dominante, responsável pelo controle tanto da produção material
quanto intelectual da sociedade. Assim, tanto para Sennett quanto para Marx e
Engels, os indivíduos são o espelho das condições materiais de sua produção, mas que essas, hoje, tem modificado a construção do caráter sob um vínculo fugaz.
Ana Carolina de Campos Ribeiro – 1º ano
Direito matutino
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
G1. Funcionários do Correio entram em greve em todo o país.
G1, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/08/17/funcionarios-dos-correios-entram-em-greve-em-todo-o-pais.ghtml.
Acesso em: 19 ago. 2020.
MELLO, Daniel. Home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. Agência Brasil, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-07/home-office-foi-adotado-por-46-das-empresas-durante-pandemia. Acesso em: 19 ago. 2020.
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