O materialismo histórico de Karl Marx e Friedrich Engels sofreu influência da teoria do socialismo utópico, desenvolvida por filósofos burgueses, dentre os quais cabe destacar Henri de Saint-Simon, Robert Owen e Charles Fourier. O socialismo utópico acreditava na entrega dos meios de produção para o proletariado por meio da iniciativa de homens burgueses que, elucidados por solidariedade repentina, tomariam a frente na transição do modelo político, desconsiderando qualquer possibilidade de organização e mobilização da própria classe operária para esse fim.
A lógica
desse pensamento, hoje, nos parece tola. A possibilidade de uma classe
favorecida pelo sistema abrir mão de seus privilégios de bom grado com o
propósito de proporcionar justiça social, sabidamente, é remota, para não dizer
inexistente. Mas me parece que o conhecimento da impossibilidade desse
acontecimento e da ineficácia da insistência da fé nele não são perfeitamente
assimilados por grande parte da população.
A sociedade,
e aqui me refiro à brasileira, por não ter conhecimento suficiente acerca de
outras para inferi-las a mesma acusação, continua comemorando e se enganando
por manifestações vazias de legitimidade e cheias de interesse comercial
provenientes de grandes empresas, que fingem comemorar conquistas das classes
sociais marginalizadas quando, na verdade, são agentes da opressão que dizem,
para fins midiáticos e econômicos, serem contrários. O termo ‘pink money’ é um
termo que exemplifica essa relação, sendo representativo do poder de compra da
comunidade LGBT+, que é disputado por grandes marcas devido à sua
expressividade. Essas marcas que atraem a atenção e o dinheiro do público ao
lançarem produtos relacionados e enfeitarem suas fachadas em datas
comemorativas são as que se calam diante de escândalos de homofobia em seus
estabelecimentos e não aplicam esforço prático algum para beneficiar as pautas
da causa.
Outro exemplo,
e esse muito mais sério, é o de empresas que manifestaram publicamente apoio ao
movimento Black Lives Matter, mais cedo neste ano, ao mesmo tempo que não possuem
políticas que busquem colocar seu apoio em prática e exploram a mão de obra da população
negra em condições análogas à escravidão em suas fábricas.
É contraditória
a celebração e exaltação de marcas que expressam apoio à lutas sociais na mídia
quando este não é acompanhado de medidas reais que defendam, de fato, os
protagonistas dessa luta. É como se, assim como os teóricos do socialismo
utópico, esperássemos que a solução viesse de cima, nos contentando com
migalhas estrategicamente distribuídas para assegurar a manutenção do status
quo. Atualmente, para muitos, é preferível, ao se referir às opressões estruturais,
omitir o nome da estrutura.
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