Industria Americana foi o filme vencedor do
prêmio de Melhor Documentário de Longa – Metragem no Oscar 2020 e em outras
premiações de cinema. O filme é sobre os funcionários de uma montadora de peças
automotivas nos Estados que, depois de sofrer com a crise financeira de 2008,
foi reaberta por uma empresa chinesa. No decorrer da história é possível
assistir o conflito de culturas entre os empregados chineses e norte-americanos
e como esses dois grupos lidam com o trabalho, com o chefe e com as diferentes
questões que envolvem essas relações.
Diante da crise que atingiu o mundo em 2008, o
mercado passou por mudanças e teve que se readequar a uma nova realidade, uma
dessas mudanças foi o crescimento chinês. A classe trabalhadora é a mais
afetada com essas mudanças, já que são eles que vendem sua força de trabalho
para manter suas vidas e de suas famílias e se o mercado vai mal, as ofertas de
emprego decaem. É então que algumas pessoas aceitam ofertas absurdas para poder
manter sua qualidade de vida.
Um exemplo concreto no documentário em análise
é o uso de equipamentos de proteção por trabalhadores de fábricas, que é
primordial para manter a segurança e é garantido por lei em diversos países,
mas é deixado de lado em várias situações do trabalho na fábrica: peças de
vidro são operadas com um equipamento que não protege 100% da integridade dos
trabalhadores.
Por essa razão e outras, os integrantes da
fábrica decidem abrir um sindicato. Essa ideia é desprezada pelo dono da
empresa que quer autonomia sobre os funcionários, afinal, sem a interferência
legal, os limites são impostos pelo dono da fábrica, muitas vezes sem pensar no
bem estar dos funcionários. Os trabalhadores chineses também se mostram contra
essa iniciativa. A flexibilização das relações de trabalho impacta também os
direitos desses trabalhadores.
As relações de trabalho são determinantes na
evolução social. É possível observar esse pensamento em toda a obra de Marx e
Engels e sua veracidade é comprovada no documentário em análise. Na cultura
ocidental em que estão inseridos os trabalhadores americanos, o lazer e as
horas que eles passam fora do trabalho são essenciais para o bem estar e para as
conquistas pessoais, enquanto para os orientais essas conquistas se dão através
do trabalho. Um trabalhador chinês afirma que se mudou para os Estados Unidos e
não pensa em levar a família consigo, se limitando a algumas visitas por ano,
assim fica explicito no filme que os empregados chineses estão acostumados a
sacrificar outras partes de seu convívio social para se dedicar ao trabalho,
chamando inclusive os americanos de “preguiçosos” ou “ineficientes”.
Esse choque cultural da maneira de lidar com as
horas de trabalho e com as horas de lazer também tem consequências em outras
áreas da vida dos trabalhadores, tal como a família. Uma americana conta aos
documentaristas que com a redução no salário e o aumento da carga horária ela
tem dificuldades para cuidar e dar atenção aos filhos.
A necessidade de superprodução que causa tanto
estresse nos operários é consequência do modelo chamado de cadeia produtiva e
da divisão do trabalho, as pessoas contratadas pela fábrica não são donos de
sua produção, são apenas peças do sistema de rede formado pela indústria.
Uma das partes mais memoráveis do documentário
é quando alguns empregados americanos vão até a China, em uma filial da fábrica
e percebem a diferença entre sua forma de trabalhar e a forma daqueles outros
empregados. A rapidez e a falta de interação pessoal com colegas de trabalho é até
assustadora para os estadunidenses, acostumados a se reunir nos horários de
almoço, por exemplo.
A empresa fornece aos empregados que estão na
China uma comemoração e apesar do contraste de culturas que acontece é possível
perceber que as pessoas envolvidas nesse trabalho existem e se relacionam
apesar de suas diferenças culturais e éticas.
As histórias contadas no filme mostram como as
relações empregatícias moldam a vida de cada pessoa e como as diferenças de
mercado afetam cada um de uma maneira diferente. O que não muda é a condição
desses empregados como parte de uma só classe trabalhadora, que deve se unir
para conquistar avanços e melhorias no trabalho e na vida particular, como bem
afirmou a documentarista em seu discurso vencedor no Oscar.
Beatriz Araujo Gomes (201223066) – 1o
ano matutino
Referências:
INDÚSTRIA AMERICANA. Direção: Julia Reichert, Steven Bognar. Netflix, 2019.
Discurso dos documentaristas: https://www.youtube.com/watch?v=WE2bYIkk8PE
Nenhum comentário:
Postar um comentário