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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A exploração do trabalhador por trás da inovação dos aplicativos na contemporaneidade

 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 41,4% da população brasileira estão em informalidade. Com base nesse paradigma, no contexto contemporâneo de pandemia ocasionada pelo Covid-19 e a importância de quarentena, houve a ascensão e maior necessidade de motoboys e entregadores de comida, serviços e produtos que compõem grande parcela dessa porcentagem de pessoas praticantes do trabalho informal. Para tanto, esses meios de informalidade não garantem nenhuma lei trabalhista e segurança, ainda no caso de pessoas filiadas a aplicativos, os apps sequer tomam responsabilidade pela integridade física e psicológica dos trabalhadores, fazendo com que esses indivíduos submetam-se grandes cargas horárias, desgastes e condições que violam a dignidade da pessoa humana, e obtendo pouco lucro da produção de entrega durante o dia.

Sob tal perspectiva, essa realidade encaixa-se com a análise proposta por Marx e Engels no materialismo histórico dialético em que é defendido que as relações de produção condicionam o funcionamento social. Isso por que, esses indivíduos que tiram sua renda como entregadores e motoristas de aplicativos estão imersos na ótica neoliberal do capitalismo, que molda a construção do pensamento da sociedade voltada à economia e a desburocratização do estado para facilitar que as atividades que geram lucro a grupos dominantes – nesse caso as empresas por trás de tais aplicativos- sejam efetuadas sem uma regulamentação que garanta os direitos dos trabalhadores, e esses muitas vezes, aceitam por enxergar aquele meio como uma forma de subsistência.

Ademais, um aspecto bem representado na obra “A Corrosão do Caráter” de Sennet que se relaciona com o respectivo assunto, é a questão da nova adoção pelo sistema capitalista de flexibilidade e da divisão do trabalho em formas de redes. Ainda, essa característica de empresa flexível é o que abre margens para as condições fragilizadas que esses motoboys e a própria terceirização enfrenta hodiernamente. Desse modo, com esse formato “frouxo” de organização de como a mercadoria é produzida e distribuída, as relações sociais dos trabalhadores envolvidos nesse processo são afetadas. Diante de tanta tecnologia e a implementação de novas formas de operacionar, a presença dos direitos que esses indivíduos deveriam ter não alcança a dinamização que o mundo globalizado produz a todo instante, além de lucro para uma elite, ocorre à exploração de uma majoritária população já presente em situações de vulnerabilidade.

Outrossim, é fundamental destacar que a sociedade não se rebela para a mudança desse cenário e nem para que medidas sejam criadas a fim de efetivar os direitos de modo que haja segurança e leis para esses motoboys e entregadores, por que o grupo dominante assim como a burguesia - criticada por Marx e Engels – criou a conscientização de que essa forma facilita e geram renda e “empregos”, além de garantir comodidade as pessoas. Em outras palavras, o modo dessa flexibilização que traz maiores benefícios para o grupo dominante, é a forma de pensamento da maioria da população por construção da elite. Assim, toda a ideia de “full time” em que um trabalhador se submete a transitar pelas ruas mais de 12h por dia para os aplicativos ficarem com maior parte do lucro gerado, na visão social amplifica o acesso, é visto como algo inovador do mundo globalizado.

Portanto, o individualismo gerado pelas frágeis relações de produção construídas a partir dessa modernidade que valoriza a rapidez, o curto tempo de entrega, o acesso por meio de aparelhos eletrônicos e não mais, por relações interpessoais, de maneira negativa, contribui para a exploração da camada mais pobre da população, que se sujeita a péssimas condições em que a legislação trabalhista sequer alcança. Logo, os motoboys, motoristas e entregadores de aplicativo, são exemplos de indivíduos afetados por essa nova forma de divisão, e de maneira análoga, as próprias relações sociais da contemporaneidade que se expressam de forma rasa e fácil de romper são resultados dessa flexibilidade gerada pelo neoliberalismo.


1° ano de direito noturno- Vitória Dayube Barbosa

REFERÊNCIAS 

https://censo2020.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/25534-desemprego-cai-para-11-8-com-informalidade-atingindo-maior-nivel-da-serie-historica.html

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