Uma das clássicas obras
cinematográficas da Pixar, “Vida de Inseto” (1998) tem como enredo a
representação de uma colônia de formigas, as quais precisam coletar alimentos
para elas e, também, para os gafanhotos, sob ameaça de ataque dos mesmos caso
não o fizessem. Entretanto, Flik - uma das formigas operárias que quer ser inventor
–, acidentalmente, ao testar uma de suas criações, faz com que toda colheita
daquele ano seja perdida ao derrubá-la no rio. Cansado da relação abusiva dos gafanhotos,
Flik após ser expulso do formigueiro, sai em busca de outros insetos com intuito
de combater os opressores. Nesse sentido, apesar de se tratar de uma animação
infantil, observa-se na mesma, metafóricos princípios contidos na ideologia
proposta pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels e elementos que permitem, até
mesmo, a compreensão da lógica marxista acerca da relação de trabalho por autores
hodiernos como Richard Sennett.
De início, cabe-se enfatizar a comum
associação das formigas como alegoria ao operariado, traço evidenciado
principalmente através das fábulas. Assim, percebe-se a presença da luta de
classes – o motor da História – no reino animal de Flik, no qual o formigueiro descreve
o papel do proletariado oprimido pelos gafanhotos (alusão a classe dominante de
capitalistas). Tal antagonismo é ressaltado pelo fato de, na animação, as formigas
terem como objetivo a coleta apenas do necessário para o consumo durante o
inverno, em contraste aos gafanhotos que visavam o acúmulo de alimentos – “lucro”
– e sua ostentação, como demonstrado na cena onde o líder Hopper exibe a sua abundante
coleção de castanhas.
Ademais, segundo a percepção de
Richard Sennett, é possível inferir que a forma de ser fordista expressa a
forma de ser dominante. Desse modo, a forma de organização da colônia das
formigas é quase uma referência a mecanicidade fabril exigida no modo de produção
sistemático do capitalismo. O personagem alegórico de Flik pode ser entendido
como o ente primordial da revolução “proletária” iniciada pela união das
formigas contra os gafanhotos, as quais conseguem derrubá-los do poder e estabelecem
uma comunidade nos moldes do socialismo científico, consagrado pela emblemática
fala de Flik no filme: “Basta de exploração!”
Além disso, pode-se ressaltar que no
materialismo histórico dialético, tese bem enfatizada por Marx junto da totalidade,
é perceptível analisar que as relações produtivas inferem na organização da
vida social e da composição estatal. Esse processo, depois interpretado por
Sennett desenvolve-se na abordagem de que o tempo da produção infere no “tempo
da vida”. Isso pode ser observado em “Vida de Inseto”, uma vez que a passagem
temporal perceptível do formigueiro é marcada pelo período entre uma colheita e
outra, o que também remete a terminologia de Marx da alienação do processo produtivo
e de consumo.
Torna-se claro, portanto, a importância da teoria marxista e engelsiana tanto no meio ficcional quanto na realidade hodierna. Em uma sociedade moderna na qual preza-se cada vez mais pelo individualismo em detrimento do coletivo, é essencial destacar os ideais proferidos na ideologia alemã a fim de estabelecer uma totalidade – rede de relações perante diversos fenômenos que se configura em constante mudança – mais igualitária e justa. Por fim, tal qual Flik para diminuir a exploração consequente e assídua do capital é preciso invocar, na prática, a consciência de que se a classe operária (ou formigueiro) produz, a classe operária pertence.
Luana Lima Estevanatto – 1º ano Matutino
Nenhum comentário:
Postar um comentário