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segunda-feira, 14 de maio de 2018

Entre o Privado e o Bem Social


No dia 13 de maio de 1888 a escravidão era abolida no Brasil, embora alguns focos destas arcaica e aterradora pratica ainda existam até hoje. O que pouco se sabe é que por traz do movimentos que levaram a abolição fazia se de peso o voto de latifundiários, que dando seu apoio ao movimento abolicionista cobrava em troca um soterramento do ideário e das pautas de reforma agraria que também vinham tomando força naquele período da história de nossa nação. O resultado foi que sim, ganhamos a abolição da escravatura, mas em contra partida desse inescrupuloso escambo o Brasil saia agora com uma nação de libertos, sem terras, sem emprego, sem condições dignas ou possíveis de se manter fora do julgo de seus até então senhores.

Em 28 de fevereiro de 2004, 116 anos após assinatura da lei que livrava o Brasil da escravidão  um terreno nos arredores do bairro Campos dos Alemães, na zona sul de São José dos Campos, era ocupado por cerca de 300 famílias, raízes históricas desta ocupação embora separada por 116 anos se encontram fixadas naquele 13 de maio de 1888, e nas décadas e séculos anteriores e posteriores que não trouxeram em nenhum momento uma resposta a questão da reforma agraria no pais, deixando em condição de abandono os escravos libertos a partir da Lei Aurea, ou do preconceito sofrido por estes pela predileção de trabalho de imigrantes reservando aos libertos as piores condições de serviço, atuando em muitos em condições análogas a própria escravidão.

O direito como conhecemos na sociedade ocidental moderna tem a necessidade real de proteção da propriedade privada, exigência vital para a existência do capitalismo como sistema econômico, independente de qual seja a vertente capitalista abordada, a propriedade é o cerne do capitalismo e somente através da proteção a este direito podemos manter a segurança jurídica sobre a qual se assentam a base deste sistema.

Esta assim desenhado o confronto de interesses, construído dentro do cerne histórico a nação que adota o capitalismo como pilar econômico sendo nesta o direito à propriedade necessário para a segurança jurídica e manutenção da ordem econômica e que contrapõe a necessidade histórica de moradia pelas classes necessitadas, classe essa em sua grande maioria composta pelos descendentes daqueles homens que foram libertos da escravidão e atirados a uma sociedade sem condições básicas inerentes ao seu desenvolvimento e se fazer valer em um sistema capitalista, cada vez mais racional e menos humano, cada vez mais burocrático e menos individual.

Em fevereiro de 2012 chegava ao fim a ocupação do Pinheirinhos, com sangrentos confrontos entre órgãos policiais e moradores, durante o cumprimento de reintegração de posse em prol da massa falida da empresa Selecta, até então proprietária do terreno, ao menos para a justiça estatal. A vitória do direito à propriedade sobre o direito à moradia, essa pode ser uma análise simplista sobre o julgado, já o impacto deste julgado em termos históricos e sociais não pode ser medido e discutido em tão poucas palavras.

A vitória da propriedade privada sobre o direito social a moradia aplaca de forma simplista a existência de um racionalismo cada vez mais forte, que exalta a burocracia do estado, em detrimento da necessidade social, porém tal racionalidade encontra freios quando atinge o interesse dos mais poderosos, dentro do sistema ideal esta racionalização mesmo que cruel, da vitória da propriedade privada sobre o interesse social deveria trazer benefícios da segurança jurídica, liberdade econômica, estes que seriam mais benéficos que maleficos, porém tais benefícios ficam em muito limitados ao plano do ideal, não se confirmando no plano real, seja pelo fato desta visão de ideal ser concebida muita das vezes de forma ilusória pelos seus interessados, ou pelo fato da burocracia estatal atingir de forma diferente alguns nichos mais poderosos e assim a justiça que precisaria ser cega, enxerga e muda seu posicionamento diante de cada um que se apresenta diante dela. O Ideal não se concretiza no real, o social se desvai e o sistema racional que já nos desencantava agora também nos decepciona. E assim entre a propriedade privada e o social ganha sempre quem tem mais "Reais".


Denis Cunha
Turma: XXXV 
Direito (Noturno)

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