Max
Weber foi um importante sociólogo, jurista e economista alemão responsável pela
estruturação da sociologia compreensiva fundamentada, em muitos aspectos, na
crítica ao marxismo de Karl Marx e Friedrich Engels e que, ainda na contemporaneidade,
os seus estudos têm relevância no desenvolvimento das ciências que serviram
como alicerce para a compreensão objetiva da sociologia. Desse modo, concentra
suas análises na ação social interpretadas a partir da criação de tipos ideias como
recurso metodológico, além de demonstrar as manifestações de poder e dominação
vinculadas as ordens jurídicas intrínsecas a todas as relações sociais.
Nesse sentido,
a ação da qual trata o sociólogo vincula-se a ideia de modo de condução da vida
de cada indivíduo, e na qual manifestam as relações sociais diante da convergência
dessas ações a partir da reprodução de valores morais, culturais, entre outros
que encaminham a ação. Assim, ao considerar-se aspectos da esfera contemporânea
pode-se mencionar, por exemplo, o caso que aconteceu no Espírito Santo da criança
de apenas dez anos grávida, abusada sexualmente pelo próprio tio desde os seis
anos de idade, e que teve o direito consolidado pela justiça a interrupção da
gravidez, visto as complicações psicológicas e físicas acarretadas diante do prosseguimento
da gestação.
Entretanto,
grupos conservadores e, em sua maioria, vinculados a instituições de caráter religioso,
movimentaram as redes sociais e se agruparam em protesto em frente ao hospital
em que seria realizado o procedimento de aborto em manifestações contra a
interrupção da gravidez e em “prol da vida”. Sob esse viés, evidencia-se a cosmovisão
pessoal de cada indivíduo fundada na adoção de determinados valores conservadores
construídos historicamente sob aspectos religiosos e machistas, na qual
conferem sentido a ação desses agentes sociais, em que se espelham em uma
resposta expectável e correspondente na ação dos outros indivíduos. Portanto,
segundo Weber, essas ações determinam as relações sociais, ao orientar-se a
partir da resposta do outro, na consolidação desses valores socialmente incorporados
que justificam a conexão da ação desses manifestantes por um mesmo objetivo.
Outrossim,
nessa esfera, a sociologia estruturada por Weber determina-se como uma ciência crítica
de reflexão e explicação da realidade ao conferir sentido a essas ações dos
agentes sociais a partir da construção do tipo ideal, na qual desenvolve relações
objetivamente possíveis motivadas para a nossa imaginação mas que não existem
de fato, pois, assim como defendeu Max Weber, “uma ciência empírica não pode
ensinar a ninguém o que deve fazer, só lhe é dado – em certas circunstâncias –
o que quer fazer” (WEBER, p. 111, 1993).
Ainda,
os conceitos de poder e dominação e seus desdobramentos nas relações sociais
foram importantes tópicos nas análises de Max Weber. Portanto, para o sociólogo,
essas concepções de poder e dominação permeiam todas as formas de interação
entre indivíduos e não são exclusivas as relações de trabalho produzidas no
contexto de exploração capitalista da qual defendeu Karl Marx, sendo o poder,
nas próprias palavras do autor, “toda a probabilidade de impor a própria
vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o
fundamento dessa probabilidade”, enquanto a dominação implica na aceitação
dessas imposições.
Desse
modo, percebe-se tais afirmações de Max Weber ao analisar a tentativa de
boicote promovida por Silas Malafaia a empresa Natura após a propaganda de Dia dos
Pais estrelada por Thammy Miranda. Assim, o importante líder de uma instituição
religiosa de grande representatividade no Brasil e que acumula uma legião de fiéis,
mobilizou seus seguidores na manifestação em repúdio a empresa. Portanto, essas
ações evidenciam a aceitação de modos de condução da vida estipulados na
imposição da vontade desse líder, como formas de exercício de poder, a partir
da reprodução de seus valores morais e culturais difundidos.
Ademais, o direito nesse cenário insere-se como instrumento na forma de dominação e poder ao moldar as condutas dos indivíduos em sociedade. Assim, as expressões das ordens jurídicas apresentam-se através da racionalidade formal e material, na qual tem-se, por exemplo, os movimentos antirracistas do Black Lives Matter, de manifestações da vida cotidiana frente a garantia de igualdades perante a lei a todo e qualquer cidadão, independente de raça, princípio inserido na representação formal do direito, mas que, infelizmente, não reproduz a realidade contemporânea apoiada na manutenção de privilégios de classes detentoras do poder que consolidam seus interesses nas ordens jurídicas formais.
Por fim,
os estudos de Max Weber a partir da sociologia compreensiva permanecem
constantes na análise da ação social dos indivíduos na esfera contemporânea ao evidenciar
a cosmovisão pessoal, principalmente no que tange a reprodução de valores
sociais, culturais, econômicos e entre outros de modo a conduzi-las a uma determinada
resposta convergente de outros agentes sociais, além das formas de poder e
dominação muito presentes em um contexto de manutenção de privilégio de classes
e de poder nas mãos de determinados grupos, em face, também, da racionalização
do direito.
Ana Carolina de Campos Ribeiro
– 1º ano Direito Matutino
Referências bibliográficas
ISTO
É. Malafaia pede boicote a Natura após campanha com Thammy. Isto É,
2020. Disponível em: https://istoe.com.br/pastor-silas-malafaia-pede-boicote-a-natura-apos-campanha-com-thammy/.
Acesso em: 3 set. 2020.
JOVEM
PAN. Aborto de menina de 10 anos gera bate-boca e protestos em frente a
hospital. Jovem Pan, 2020. Disponível em: https://jovempan.com.br/noticias/brasil/aborto-de-menina-de-10-anos-gera-bate-boca-e-protestos-em-frente-a-hospital.html.
Acesso em: 3 set. 2020.
WEBER,
Max. A objetividade do conhecimento na ciência social e na ciência política.
In: A metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Cortez; Campinas: Ed.
Da UNICAMP, 1993, p. 107-154.
WEBER, Max. Economia e Sociedade – Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Vol. 2. Brasília: Ed. da UnB: Imprensa Oficial, 2004.
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