Max Weber representa uma figura fulcral no entendimento das ciências sociais, delimitando um método sociológico objetivo para apreender as relações e manifestações no seio da sociedade. Assim se delimita sua lógica compreensiva da realidade social, segundo a qual se observam as ações de acordo com os princípios em que se pautam, inseridas em um contexto cultural de valores, aspectos políticos, morais e econômicos, configurando uma rede que é essencialmente o seu objeto de estudo. É também importante destacar o papel do indivíduo, entendido no centro da análise, em constante contato com o outro, sendo as relações sociais um conjunto de conexões estabelecido pelos plurais movimentos das ações sociais – que cada um engendra a partir da subjetividade. Inserido nessa ótica e pautando-se nesse método, o sociólogo conceitua as relações de poder e dominação que definem inúmeros âmbitos da sociedade. Tais figuras se compreendem na imposição de vontades e determinação externa sobre o modo de conduzir a vida, portanto sobre a própria ação social. A experiência jurídica, nesse contexto, desdobra-se justamente como um coercitivo elemento de domínio, ocultando no seu cerne interesses materiais de uma classe dominante, e uma racionalidade que deturpa a pura ideia de justiça, trazendo os ideais particulares de um grupo como universais e corretos – o que inspira reflexões e críticas explícitas no tecido da sociedade contemporânea.
O direito é uma poderosa ferramenta de domínio. Em seu essencial papel de estabelecer normas e instituições que fundamentem o bem estar social (ou um mínimo ponto de equilíbrio), faz-se um contexto que delimita as ações humanas e o contato estabelecido entre o homem e o outro, em suas consequências ao mundo de relações estabelecido no capitalismo. Justamente nesse contexto em que a economia se torna a base dos laços humanos, o fenômeno jurídico engolfa um papel político, exercendo a dominação e poder em um sentido que agride e segrega. Perdem-se no instantâneo os ideais líquidos de justiça e igualdade, em alcance da legitimidade desse sistema pragmático. Tomada essa ideia como base, tantas seriam as reflexões possíveis no plural cenário brasileiro, em que a complexa rede de ações sociais se entende em sentidos de perversa dominação, perdendo-se os valores humanísticos em análises distanciadas da condição humana pura e completamente indeterminável.
Limita-se, nesse breve texto, a delinear a contemporaneidade da dominação e poder a partir da literatura de Lygia Fagundes Telles, em sua obra “As meninas”. Nesse romance, aborda-se de maneira íntima e direta um episódio que marca o Brasil de forma profunda e abrangente: a ditadura. Movimento inserido na série de governos ditatoriais latino-americanos, fundamenta um processo de desumanização e agressões explícitas à dignidade da pessoa humana e às liberdades individuais. Não se superaram até hoje os ecos desse trágico passado, o que revela o direito inserido na perpetuação de valores de uma classe dominante excludente. Prova disso são os reflexos ainda visíveis nos caminhos do tempo, sendo o atual governo, em muitos aspectos, alinhado a esses ideais de poder e domínio. É ainda complexo e tortuoso o caminho para a plena superação dessas agressões, o que é cada vez mais retrasado com as declarações antiéticas do grupo dominante, que acaba por influir externamente sobre as ações sociais.
Sobre
essas conceituações ainda atuais, reflete a escritora do livro por meio
de suas personagens, três jovens inseridas politicamente em lutas sociais pela
emancipação feminina e pela libertação de um regime que as oprime, com
resultados visíveis no seu conjunto de relações e estudos. Ao trazer as
consequências do regime a um caráter intimista e subjetivo, que discute a relação
com o outro e com o contexto político, facilmente se transpõe essa análise à
construção weberiana e à contemporaneidade, em que o direito ainda adquire um
papel coercitivo de grande expressividade à sociedade e às relações individuais.
Diante de um Brasil polarizado e afligido pelas suas mais cruéis experiências, vê-se
o crescimento de um absurdo discurso que abarca os ideais mais materiais de
quem domina, legitimados pela segregação e agressão com que concordam vários
grupos. Mostra-se um caminho à plena ética barrado por irrefletidas construções,
ecos de um passado histórico que se perpetua através do tempo, atingindo intimamente
o laço entre o outro e o eu. Isso se evidencia criticamente pela escritora a partir de tantos aspectos sociais, na análise da dominação e do poder que alcançam as
classes sob a roupagem do direito.
Lucas Rodrigues Moreira – 1º semestre
– Matutino
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