Nunca foi tão expressivo o conceito ação social, de Max Weber, como no Brasil contemporâneo. Nunca foi tão visível a influência dos valores, da cultura na conduta da pessoa. No dia 05/09/2020 faz calor, Sol e é feriado, ou seja, situação perfeita para ir à praia. Seria perfeita, na verdade, se não estivesse ocorrendo no mundo uma Pandemia.
O sociólogo, ao utilizar um tipo ideal de conduta humana perante uma pandemia, em que são necessárias diversas medidas sanitárias, para analisar o Brasil muito se surpreenderia ao ver o quanto a realidade brasileira é diferente da teoria. Sol, calor e feriado são o suficiente para as pessoas esquecerem, ignorarem ou até mesmo, no caso em que nunca mesmo acreditaram nessa pandemia, confirmar sua descrença. Nesse exemplo da praia, onde milhares de pessoas se reuniram – muitas sem máscara ou respeitando quaisquer medidas sanitárias -, nota-se uma verdadeira ação social racional com relação a valores, já que muitos, acreditando em conspirações acerca da pandemia do coronavírus, foram a praia para confirmar, juntos com pessoas que pensam o mesmo, suas crenças e seus valores contra essa, segundo eles, farsa, e nisso achando um sentido, uma conexão em suas ações recíprocas e complementares.
Nesse caso, parece que mesmo o sistema, fortalecido pelo direito como forma de poder e dominação, não teve forças contra os valores individuais, que completamente ignoraram suas normas e, ao mesmo tempo, foram ignorados pelo sistema, não tendo ele força para fazer aqueles cessarem sua conduta. Nesse caso, portanto, a norma do direito, como poder e dominação, de não fazer aglomerações e utilizar devidamente a máscara, só funcionou às pessoas que ou realizaram uma conduta racional relacionada a fins – sendo o fim não ser multado ou não adoecer – ou realizaram, como no caso das pessoas da praia, uma conduta racional relacionada a valores – contudo, nesse caso os valores são de respeito ao próximo, à vida e na crença de ser o certo abster-se de certos prazeres para não piorar a situação de saúde do país.
Dessa forma, percebe-se que, mesmo que normas, ou o próprio direito em toda sua extensão, possuam sim grande influência sobre a conduta das pessoas e a vida em geral, os reais protagonistas das condutas humanas são os próprios indivíduos que, a partir de valores que possuam, adquiridos principalmente devido à cultura, realizam ações, sempre em relação a outro indivíduo, para achar um sentido nesses valores que possuem, encontrando assim toda uma conexão. Por isso que, na situação atual que passamos no Brasil que é o caso do crescimento do individualismo, do egoísmo e do desprezo ao coletivo em geral, devido a diversas razões, como governamentais e culturais, as pessoas agiram da maneira pela qual o fizeram na praia, porque seus valores mais egoístas as fizeram encontrar, na praia, um sentido de existir ao se conectar com “cocredores” no local.
O Brasil,
portanto, é explicitamente e talvez o melhor exemplo da frase que diz que o
tipo ideal muitas vezes não corresponde à realidade efetiva. Nesse caso, sendo
o tipo ideal um que espere que as pessoas temam por suas vidas e realizem
condutas de acordo, a realidade brasileira realmente está longe de
corresponder.
Vitor Nakao Tersigni - 1° Ano Direito - Período Diurno
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