No Brasil de 1889 foi
instaurada a Primeira República, dando fim ao regime monárquico que perdurou
por quase 70 anos, e em poucos dias após a sua proclamação, o lema “Ordem e
Progresso” foi inserido na bandeira brasileira. Tal lema foi inspirado na frase
“O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim” de Auguste Comte,
um sociólogo positivista, autor de ideais que influenciaram o Brasil naquela
época e continuam influenciando até hoje. Para ele, o progresso da sociedade é
natural, linear e decorrente da ordem, que seria proteger e defender tudo
aquilo que afeta positivamente o meio social.
Esse progresso foi dividido pelo
sociólogo em três estados: teológico, metafísico e positivo. No estado
teológico, a sociedade ainda acredita na influência de seres sobrenaturais
sobre os fenômenos da natureza e os sociais, recorrendo à religião para explicá-los.
O estado metafísico seria o abandono das religiões e a busca pela essência das
coisas, ainda sem aprofundamento e comprovação científica, para finalmente
chegar no último estado, o positivo, que é pautado na ciência e no método
científico para entender as leis sociais e naturais, sendo esse o último
estágio de evolução da razão humana.
Para Comte, o importante não é
entender como acontecem os fenômenos, mas sim a ligação entre eles. Com isso, a
análise feita torna-se muito superficial, pois não busca encontrar a essência
do fato e o porquê ele ocorre, fazendo com que muitos problemas continuem acontecendo
por serem aplicadas apenas medidas paliativas. Um exemplo disso foi a lei seca
nos Estados Unidos, que baniu a produção e a venda de bebidas alcóolicas,
apenas aumentando o índice de mortes, pois as pessoas buscavam a substância no
mercado ilegal, que vendia um álcool mais forte e com a qualidade mais baixa, e
o lucro obtido por esse comércio ilegal apenas aumentou o crime organizado e a
violência no país. Ou seja, observar o problema do álcool apenas proibindo seu
uso piora a situação, pois não considera o todo.
Infelizmente, esse tipo de
ação ocorre com frequência no Brasil hoje em dia. O atual presidente Jair
Bolsonaro foi eleito com um discurso pautado em violência e imediatismo, como
se as ações militares fossem resolver todo o problema da criminalidade no país.
Ele não leva em conta o racismo estrutural, a desigualdade social e a corrupção,
considera que apenas eliminar os transgressores vai acabar com o problema, vide
sua famosa frase “bandido bom é bandido morto”, mas não considera que, enquanto
existirem problemas estruturais, mais pessoas buscarão a criminalidade, perpetuando
assim a problemática.
Todo esse problema estrutural
é decorrente de preconceitos estruturais, como o racismo, que marginaliza a
população preta. Infelizmente, a sociedade brasileira apresenta diversos outros
preconceitos enraizados, tal qual a homofobia. Um famoso autoproclamado filósofo,
Olavo de Carvalho, que era considerado o “guru” do Jair Bolsonaro, escreveu em
seu livro “O Imbecil Coletivo” um capítulo chamado “Mentiras Gays”. Nesse
capítulo ele apresenta diversos dados deturpados sobre homossexuais, usa o
termo “homossexualismo” que, com o sufixo -ismo, denota doença, diz que homossexualidade “é uma
opção; a heterossexualidade é um dado”, tornando a orientação sexual de
diversas pessoas um mero fetiche e dizendo ainda que ser homossexual é ser
egoísta, pois fala apenas pelo desejo de um grupo, enquanto os heterossexuais “falam
em nome da espécie humana”.
Conclui-se que assim como a
ciência, a humanidade também deve evoluir e progredir, mas esse progresso deve
levar em conta todos os indivíduos de uma sociedade, e não apenas uma parcela
dela. A estratificação social existe há muito tempo, e isso não é um progresso.
Inferiorizar indivíduos, de qualquer forma, é um grande retrocesso. A corrente
positivista ajuda a manter essa situação, pois a ampara no argumento de que é
algo intrínseco à humanidade, fundamentando assim os discursos de ódio.
Bianca Vipiéski Araújo- 1º Ano - Matutino.
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