Durante um contexto político social de muita agitação, entre 1830 e 1848, em que diversas revoluções eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises econômicas e da falta de representação política das classes, Augusto Comte pensou não apenas em um estudo da sociedade, mas uma organização desta. O Positivismo não procura buscar a essência dos acontecimentos, mas apenas a vinculação dos fenômenos, de forma a observar a sociedade por fatos concretos e de forma racional, reivindicando padrões de conduta que torne os indivíduos aptos a manter a ordem social e buscar progresso.
E por ordem social, entende-se que o progresso da sociedade não está ligado a contemplação de uma sociedade necessariamente igualitária para todos, uma vez que as baixas condições de vida aplicadas a vivência de determinadas minorias são justificadas como algo natural e inerente a humanidade, com governos proporcionando paras essas o mínimo para que se mantenham sem organizar movimentações por seus reais direitos e exercendo suas funções sociais de modo satisfatório, a fim de a engrenagem social continuar funcionando.
Entretanto, engana-se quem pensa que tal corrente filosófica ficou contida no passado. Esta doutrina perpassou a história e esteve presente em diversos acontecimentos marcantes, como inúmeros momentos de independência de nações, o estabelecimento de uma República no Brasil, chegando até a contemporaneidade. Nesse último momento, autores, como Olavo de Carvalho em seu livro O Imbecil Coletivo, tentam afirmar a existência de “ditaduras gayzistas” e inferiorizar a homossexualidade (no livro, chamada de “homossexualismo”, utilizando, propositalmente, o sufixo “ismo” para referir-se a essa orientação sexual como uma doença) ao assegurar que essa nada mais seria do que a manutenção de um desejo, mas que o correto frente à humanidade está na heterossexualidade, uma vez que esta é responsável pela reprodução humana e, consequentemente, pela funcionalidade social.
Além disso, atualmente, em 2020, em meio a uma pandemia, não é incomum escutarmos que “a vida tem que continuar” ou que a “economia não pode parar”, frases utilizadas em defesa à reabertura de comércios e a continuidade da chamada “vida normal” em um contexto de consciência que isto resultará na possível morte de milhares de pessoas. Essa aceitação é a manutenção da ideia de que existem pessoas que são “morríveis” e que estas devem se sacrificar pela harmonia e um bem estar social, que na verdade será restrito a aqueles que detêm posições de privilégio dentro da sociedade.
Por fim, é necessário dizer que esta doutrina, apesar do uso do natural para justificar toda essa face de desigualdade, apenas serve para perpetuar a ideia de inferioridade de uma parcela da comunidade, as reprimir e instaurar uma violência contra minorias a partir de discursos de ódio, muitas vezes, mascarados.
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