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segunda-feira, 27 de julho de 2020

As diversas manifestações do ideal positivista na atual sociedade brasileira


              Auguste Comte, considerado por alguns como o fundador da sociologia, há cerca de dois séculos atrás promovia grandes mudanças dentro do campo do conhecimento científico, introduzindo-lhe um novo objeto de estudo: a humanidade. Foi a partir de seus estudos sobre a sociedade de seu período, os grandes problemas enfrentados pela mesma e a busca por uma solução, que Comte acabou elaborando o Positivismo, corrente filosófica cujos alicerces são os ideais de ordem e progresso. Em um curto período, essa corrente epistemológica acabou se espalhando pelo continente europeu, fenômeno que não se restringiu a este último,  de modo que podemos encontrar em nossa bandeira nacional o lema positivista de “ordem e progresso”.  
            Embora o Positivismo como ideal filosófico e solução social tenha se mostrado obsoleto, tanto pelas diversas transformações sociais durante os séculos XIX e XX como pelo surgimento de trabalhos posteriores no ramo da sociologia, muitas reminiscências do pensamento positivista podem ser encontradas na atual sociedade brasileira, as quais estão concentradas principalmente na imagem do presidente Jair Messias Bolsonaro e de seu guru, o “filósofo” Olavo de Carvalho.
            Dessa forma, em conjunturas problemáticas como a vivenciada atualmente pela pandemia da COVID-19, o pensamento positivista de Bolsonaro e seus apoiadores torna-se cada vez mais evidente: em busca por um progresso que não pode esperar, esses acabam por incentivar a reabertura do comércio e das atividades econômicas no país, mesmo que essa situação possa colocá-los em risco, além de outras milhares pessoas que podem ser contaminadas. Não obstante, aqueles que apoiam o presidente são capazes de criar uma falsa “ciência”, de modo a instrumentalizá-la, como um positivista do século XIX, de acordo com seus interesses políticos: incentivam o uso da cloroquina para a cura da COVID-19, embora a eficácia desse remédio não tenha sido comprovada, e não utilizam máscaras em áreas públicas, influenciados por veto de Bolsonaro à lei que obriga o uso das mesmas.
            No entanto, não são necessários momentos catastróficos para reconhecer um indivíduo tomado pelo ideal positivista. Olavo de Carvalho, em seu livro “O Imbecil Coletivo”, ao tratar da temática da homoafetividade, deixa claro que a união homossexual é inferior à união heterossexual, simplesmente pelo fato da primeira não permitir a procriação do homem, como se as relações humanas e as interações dos indivíduos devessem se direcionar simplesmente à perpetuação da espécie. O pensamento do “filósofo” mostra-se ainda mais grotesco quando este supõe que relações abusivas seriam atenuadas se realizadas entre indivíduos do mesmo sexo, uma vez que não haveria possibilidade de gravidez, ou seja, a imoralidade do ato não reside nele mesmo para Olavo, mas sim em suas possíveis repercussões sociais.
            O Positivismo, portanto, na conjuntura atual de nossa sociedade, mostra-se extremamente obsoleto como instrumento de interpretação da realidade, e embora sua criação remeta ao século XIX, podemos encontrá-lo facilmente no Brasil de hoje, presente no pensamento de Bolsonaro, Olavo de Carvalho e seus seguidores.


Veto de bolsonaro ao uso obrigatório de máscaras em locais públicos: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/03/bolsonaro-veta-uso-obrigatorio-de-mascara-no-comercio-em-escolas-e-em-igrejas

Estudo referente à ineficácia da cloroquina: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53522399

Gustavo de Oliveira Battistini Pestana - 1 ano - Diurno

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