Auguste Comte,
considerado por alguns como o fundador da sociologia, há cerca de dois séculos atrás promovia grandes mudanças dentro do campo do conhecimento científico, introduzindo-lhe um novo objeto de estudo:
a humanidade. Foi a partir de seus estudos sobre a sociedade de seu período, os
grandes problemas enfrentados pela mesma e a busca por uma solução, que Comte
acabou elaborando o Positivismo, corrente filosófica cujos alicerces são os
ideais de ordem e progresso. Em um curto período, essa corrente epistemológica
acabou se espalhando pelo continente europeu, fenômeno que não se restringiu a
este último, de modo que podemos
encontrar em nossa bandeira nacional o lema positivista de “ordem e progresso”.
Embora o Positivismo como ideal
filosófico e solução social tenha se mostrado obsoleto, tanto pelas diversas transformações
sociais durante os séculos XIX e XX como pelo surgimento de trabalhos
posteriores no ramo da sociologia, muitas reminiscências do pensamento
positivista podem ser encontradas na atual sociedade brasileira, as quais estão
concentradas principalmente na imagem do presidente Jair Messias Bolsonaro e de
seu guru, o “filósofo” Olavo de Carvalho.
Dessa forma, em conjunturas problemáticas
como a vivenciada atualmente pela pandemia da COVID-19, o pensamento
positivista de Bolsonaro e seus apoiadores torna-se cada vez mais evidente: em
busca por um progresso que não pode esperar, esses acabam por incentivar a
reabertura do comércio e das atividades econômicas no país, mesmo que essa situação
possa colocá-los em risco, além de outras milhares pessoas que podem ser
contaminadas. Não obstante, aqueles que apoiam o presidente são capazes de
criar uma falsa “ciência”, de modo a instrumentalizá-la, como um positivista do
século XIX, de acordo com seus interesses políticos: incentivam o uso da
cloroquina para a cura da COVID-19, embora a eficácia desse remédio não tenha
sido comprovada, e não utilizam máscaras em áreas públicas, influenciados por
veto de Bolsonaro à lei que obriga o uso das mesmas.
No entanto, não são necessários
momentos catastróficos para reconhecer um indivíduo tomado pelo ideal positivista.
Olavo de Carvalho, em seu livro “O Imbecil Coletivo”, ao tratar da temática da
homoafetividade, deixa claro que a união homossexual é inferior à união heterossexual,
simplesmente pelo fato da primeira não permitir a procriação do homem, como se
as relações humanas e as interações dos indivíduos devessem se direcionar
simplesmente à perpetuação da espécie. O pensamento do “filósofo” mostra-se
ainda mais grotesco quando este supõe que relações abusivas seriam atenuadas se
realizadas entre indivíduos do mesmo sexo, uma vez que não haveria
possibilidade de gravidez, ou seja, a imoralidade do ato não reside nele mesmo
para Olavo, mas sim em suas possíveis repercussões sociais.
O Positivismo, portanto, na conjuntura
atual de nossa sociedade, mostra-se extremamente obsoleto como instrumento de interpretação
da realidade, e embora sua criação remeta ao século XIX, podemos encontrá-lo
facilmente no Brasil de hoje, presente no pensamento de Bolsonaro, Olavo de
Carvalho e seus seguidores.
Veto de bolsonaro ao uso obrigatório de máscaras em locais públicos: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/03/bolsonaro-veta-uso-obrigatorio-de-mascara-no-comercio-em-escolas-e-em-igrejas
Estudo referente à ineficácia da cloroquina: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53522399
Gustavo de Oliveira Battistini Pestana - 1 ano - Diurno
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