“A gravidade já existia muito antes de Newton, mas a sua descoberta serviu para comprovar o quão inútil é a ideia de a desafiar”
Era uma vez uma clareira, onde havia uma Grande Árvore,
alta e com copas fartas, habitadas por pássaros que tinham à sua disposição
todas as frutas oferecidas por aquele local. Dentro dessa árvore, diversos
insetos tiram proveito dos pequenos espaços e galhos para começar seus ninhos e
pegar as sobras que os alimentos que caem das copas mais altas.
Na base da Grande Árvore, havia uma colônia
de cupins, viviam da madeira dela e precisavam lidar com as ameaças vindas de
outras partes da clareira, como pássaros que se alimentavam de cupins e por
consequência acabavam destruindo parte das estruturas da colônia. Perceptível
que a vida de cupim não era muito fácil, mas é a ordem natural das coisas como
peças importantes na cadeia alimentar de todo aquele espaço.
No entanto, havia um Cupim
específico, que se destacava como o mais inteligente entre todos. Mesmo que
para os padrões de um cupim isso queira dizer que este usa muito bem o espaço
de um crânio que tem o tamanho da cabeça de um alfinete, o Cupim era um grande
construtor, o melhor entre seus pares.
Certa vez, enquanto reparava os
danos de mais um ataque de pássaros contra a, o Cupim refletia sobre como
evitar que essas fatalidades acontecessem de novo, então o Cupim pensou em um
plano: Construir sozinho uma estrutura que possibilitasse a sua colônia de
alcançar o topo da Árvore. Lá não teria como a colônia ser incomodada, pois
estariam dividindo espaço com os pássaros e teriam toda a madeira da árvore
para se alimentar, um plano teoricamente dotado de astúcia e ambição, mas nada
muito difícil para o construtor mais habilidoso e inteligente da colônia.
O Cupim apresentou sua ideia para a Rainha dos Cupins,
que viu nas vantagens uma oportunidade e tampouco se viu na posição de duvidar
das capacidades do seu mais árduo construtor, que conduziria a ideia sozinho.
Sendo assim, foi dado o sinal verde para que se iniciasse o que seria uma
inovação para todos os cupins, conduzida justamente pelo mais esforçado da
colônia.
Depois de dias à fio furando madeira e abrindo buracos na
Grande Árvore, o Cupim, apesar de cansado, era movido pelo desejo de em algum
momento conseguir ocupar as copas mais altas, onde teria a melhor madeira,
menos predadores e a segurança que este tanto almejava, e esperava no mínimo
ficar com a parte mais alta da colônia caso cumprisse seu objetivo.
Porém, quando terminava uma estrutura na parte
intermediária da árvore, uma forte rajada de vento afligiu o Cupim, que pequeno
como é, acabou por ser arremessado em direção a teia de uma Aranha. Tenso e
desesperado pelo infortúnio, já imagina ali seu destino selado: Virar a
refeição de um predador qualquer.
Ao fim da ventania, ainda preso nas teias, o Cupim passou
do desespero para o conformismo, mas sem antes usar da astúcia de ser o mais
inteligente dos cupins para tentar se livrar do que poderia ser o fim da sua
vida. Após refletir um pouco, a Aranha, que antes ocupada protegendo seu ninho
do vendaval, agora se encaminhava rumo ao Cupim, uma deliciosa recompensa pelo
esforço que precisou fazer para proteger as suas crias.
- Espere, não me coma! – Disse o Cupim
-
Me dê um bom motivo para que eu não o coma – Disse a Aranha, com as suas presas
úmidas em veneno, preparada para abater o petisco que caíra em sua teia.
-
Eu posso construir uma casa para você! Você sabe como nós cupins somos grandes
construtores, eu sou o melhor da minha colônia. – Justificou o Cupim
-
Ora, já tenho uma casa, eu mesma sou capaz de construí-la com minhas grandes
teias, além de serem muito mais confortáveis que uma casa de cupim.
-
Sou a melhor e mais inteligente entre os cupins! Por favor, me deixe ir!
Acharei um meio de te recompensar de alguma forma se eu conseguir chegar na
copa dos pássaros lá em cima com a colônia. – Suplicou o Cupim.
-
Como o quê por exemplo? – Indagou a Aranha.
-
Tudo! A melhor madeira, as melhores copas para montar uma teia confortável para
sua ninhada, proteção contra outros predadores. Apenas me deixe sair e quando
terminar meu projeto, lhe darei tudo o que você precisar. – Implorou o Cupim,
pedindo misericórdia.
-
Bom, pois agora tudo o que preciso, é de comida para a minha ninhada. – Afirmou
a Aranha.
Antes sequer do Cupim ter a
oportunidade de pedir misericórdia pela sua vida uma última vez, ele foi
rapidamente envenenado, abatido e servido como janta para a ninhada da Aranha,
que naquela noite dormiria feliz e satisfeita por conseguir manter em ordem sua
prole durante mais um dia na altura intermediária da Grande Árvore. Dando seguimento
a mais uma geração naquele ecossistema único e milenar. Sorte essa que mesmo o mais
inteligente dos Cupins nunca mais iria aproveitar, pois ao contestar a lógica
da Grande Árvore, pagou com a vida o preço de tentar alterar a ordem pela
soberba exagerada que por vezes o fez esquecer que mesmo entre os insetos, ele
era apenas um cupim, entre outros tantos que cumprem muito bem a sua função:
Ser a base alimentar para o progresso de tantas outras proles e ninhadas de
outros animais.
Lucas
Costa Mignoli Ferreira da Silva - 1ºDireito / Noturno
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