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segunda-feira, 27 de julho de 2020

O Cupim e a Aranha


“A gravidade já existia muito antes de Newton, mas a sua descoberta serviu para comprovar o quão inútil é a ideia de a desafiar”


  

Era uma vez uma clareira, onde havia uma Grande Árvore, alta e com copas fartas, habitadas por pássaros que tinham à sua disposição todas as frutas oferecidas por aquele local. Dentro dessa árvore, diversos insetos tiram proveito dos pequenos espaços e galhos para começar seus ninhos e pegar as sobras que os alimentos que caem das copas mais altas.

        Na base da Grande Árvore, havia uma colônia de cupins, viviam da madeira dela e precisavam lidar com as ameaças vindas de outras partes da clareira, como pássaros que se alimentavam de cupins e por consequência acabavam destruindo parte das estruturas da colônia. Perceptível que a vida de cupim não era muito fácil, mas é a ordem natural das coisas como peças importantes na cadeia alimentar de todo aquele espaço.

            No entanto, havia um Cupim específico, que se destacava como o mais inteligente entre todos. Mesmo que para os padrões de um cupim isso queira dizer que este usa muito bem o espaço de um crânio que tem o tamanho da cabeça de um alfinete, o Cupim era um grande construtor, o melhor entre seus pares.

            Certa vez, enquanto reparava os danos de mais um ataque de pássaros contra a, o Cupim refletia sobre como evitar que essas fatalidades acontecessem de novo, então o Cupim pensou em um plano: Construir sozinho uma estrutura que possibilitasse a sua colônia de alcançar o topo da Árvore. Lá não teria como a colônia ser incomodada, pois estariam dividindo espaço com os pássaros e teriam toda a madeira da árvore para se alimentar, um plano teoricamente dotado de astúcia e ambição, mas nada muito difícil para o construtor mais habilidoso e inteligente da colônia.

O Cupim apresentou sua ideia para a Rainha dos Cupins, que viu nas vantagens uma oportunidade e tampouco se viu na posição de duvidar das capacidades do seu mais árduo construtor, que conduziria a ideia sozinho. Sendo assim, foi dado o sinal verde para que se iniciasse o que seria uma inovação para todos os cupins, conduzida justamente pelo mais esforçado da colônia.

Depois de dias à fio furando madeira e abrindo buracos na Grande Árvore, o Cupim, apesar de cansado, era movido pelo desejo de em algum momento conseguir ocupar as copas mais altas, onde teria a melhor madeira, menos predadores e a segurança que este tanto almejava, e esperava no mínimo ficar com a parte mais alta da colônia caso cumprisse seu objetivo.

Porém, quando terminava uma estrutura na parte intermediária da árvore, uma forte rajada de vento afligiu o Cupim, que pequeno como é, acabou por ser arremessado em direção a teia de uma Aranha. Tenso e desesperado pelo infortúnio, já imagina ali seu destino selado: Virar a refeição de um predador qualquer.

Ao fim da ventania, ainda preso nas teias, o Cupim passou do desespero para o conformismo, mas sem antes usar da astúcia de ser o mais inteligente dos cupins para tentar se livrar do que poderia ser o fim da sua vida. Após refletir um pouco, a Aranha, que antes ocupada protegendo seu ninho do vendaval, agora se encaminhava rumo ao Cupim, uma deliciosa recompensa pelo esforço que precisou fazer para proteger as suas crias.

 - Espere, não me coma! – Disse o Cupim

- Me dê um bom motivo para que eu não o coma – Disse a Aranha, com as suas presas úmidas em veneno, preparada para abater o petisco que caíra em sua teia.

- Eu posso construir uma casa para você! Você sabe como nós cupins somos grandes construtores, eu sou o melhor da minha colônia. – Justificou o Cupim

- Ora, já tenho uma casa, eu mesma sou capaz de construí-la com minhas grandes teias, além de serem muito mais confortáveis que uma casa de cupim.

- Sou a melhor e mais inteligente entre os cupins! Por favor, me deixe ir! Acharei um meio de te recompensar de alguma forma se eu conseguir chegar na copa dos pássaros lá em cima com a colônia. – Suplicou o Cupim.

- Como o quê por exemplo? – Indagou a Aranha.

- Tudo! A melhor madeira, as melhores copas para montar uma teia confortável para sua ninhada, proteção contra outros predadores. Apenas me deixe sair e quando terminar meu projeto, lhe darei tudo o que você precisar. – Implorou o Cupim, pedindo misericórdia.

- Bom, pois agora tudo o que preciso, é de comida para a minha ninhada. – Afirmou a Aranha.

            Antes sequer do Cupim ter a oportunidade de pedir misericórdia pela sua vida uma última vez, ele foi rapidamente envenenado, abatido e servido como janta para a ninhada da Aranha, que naquela noite dormiria feliz e satisfeita por conseguir manter em ordem sua prole durante mais um dia na altura intermediária da Grande Árvore. Dando seguimento a mais uma geração naquele ecossistema único e milenar. Sorte essa que mesmo o mais inteligente dos Cupins nunca mais iria aproveitar, pois ao contestar a lógica da Grande Árvore, pagou com a vida o preço de tentar alterar a ordem pela soberba exagerada que por vezes o fez esquecer que mesmo entre os insetos, ele era apenas um cupim, entre outros tantos que cumprem muito bem a sua função: Ser a base alimentar para o progresso de tantas outras proles e ninhadas de outros animais.   



Lucas Costa Mignoli Ferreira da Silva - 1ºDireito / Noturno
             

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