Quinta-feira, 30 de agosto de
2012.
Caro Sr. Bom Senso,
Venho por meio dessa carta
apenas questioná-lo sobre os – tristes - acontecimentos da semana. Sim, senhor.
Digo tristes. Tristes, porque, para mim, nesses últimos dias, o senhor
desapareceu. Deixou-se ser encoberto por um manto. Um manto que tinha costurado
em sua superfície grandes pedaços de pano, de extremismos, intolerância e até
hipocrisia.
Como o senhor bem sabe, apesar de não
estar presente, a Unesp –Franca ia receber, para palestrar em evento sobre a
monarquia, o “Príncipe”, descendente da
casa de Orleans e Bragança. O conhecimento do discurso do “Príncipe”
gerou um ato-debate entre os mais variados grupos contra a criminalização dos
movimentos sociais. E, assim, foi organizada uma manifestação. Manifestação,
essa, que fugiu do controle e culminou na implosão do evento, que foi
transferido para outra Faculdade da cidade. Para quem assistia o ocorrido,
facilmente se lembraria da aula de Sociologia sobre Durkheim e do exemplo do
vídeo da Uniban.
E foi na
repercussão do acontecido que realmente achei que o Sr. tinha falecido! De um
lado, alguns comemoravam a vitória, o êxito! De outro, quase um “cortem-lhe as
cabeças!”. Ambos defendendo a democracia. E eu realmente comecei a me perguntar
se estávamos todos realmente em uma Universidade. Depois de refletir um pouco e
adicionar as experiências vividas até agora neste ano, comecei a me perguntar o
que realmente é a Universidade, na prática. Ah, como eu era ingênua em meu Ensino Médio.
Ah, como eu sonhava em conhecer, em discutir, debater. Mas, cada vez mais,
apenas sopros de uma verdadeira construção de conhecimento sobrevivem na
Faculdade.
Vitória!?
Vitória por não ouvir!? Vitória por, em vez de quebrar ideologias com
argumentos, quebrá-las no grito!? E falar que isso vem de pensadores e futuros
responsáveis por um país?! Ah, por favor! Ou ainda pedir o “corte da cabeça”
dos responsáveis!? Muito simples, muito fácil apenas culpar um grupo de alunos,
e outros se isentarem do ocorrido, sem considerar toda a profundidade do
problema, e toda a podridão que mantém o Sistema do modo em que se encontra.
O
problema é muito maior do que um “simples” acontecimento. O problema já está na
própria estrutura das Universidades, que um dia, já foram principais formadoras
de opinião da sociedade; e até na própria relação sociedade-universidade. Um
exemplo disso é o modo como o Universitário é visto hoje em dia. Como uma possibilidade
de crescimento para cidade, ou como investimento para o futuro do país? Não.
Como o bêbado destruidor da cidade em que estuda.
É por tudo
isso, Sr. Bom Senso, que peço que reconsidere
nossas ações e retorne ao nosso convívio. Precisamos do senhor na mesma
proporção em que, como seres sociais, precisamos de nossas relações humanas. E,
enquanto isso, temo. Temo pela sociedade, temo por mim mesma. Temo porque, se
realmente o senhor está em seus últimos suspiros de vida, nossa sociedade
também está.
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