Movimentos pedindo o fim da polícia
militar reivindicam que a estrutura da instituição está falida e não cumpre
mais o papel que a ela foi conferido pela sociedade. Esse discurso foi agravado
com acontecimentos recentes como a morte de João Pedro, um menino de 14 anos
que foi assassinado por policiais que dispararam 70 tiros contra a casa onde o
garoto brincava com mais 5 amigos.
Casos como o de João Pedro, escancaram o
abuso cometido por policiais em operações principalmente nos bairros mais
periféricos e contribuem para o genocídio da população negra, maioria nesses
lugares e também entre as vítimas desses policiais.
O papel concebido aos
policiais de preservação da ordem pública e de proteção das pessoas e do
patrimônio, não passa de um tipo ideal, ou seja, a conduta expectável que a
sociedade tem para com esses profissionais. Esse tipo ideal é um mecanismo para
ilustrar as ações sociais, o que não significa que vai se concretizar, e nesses
casos a conduta não é a esperada.
Para entender como esses profissionais designados
a proteção são tão facilmente corrompidos e
acabam cometendo delitos graves como o supracitado é necessário compreender o
poder que a sociedade entrega para esses policiais.
O poder, segundo Max Weber,
se dá mediante a racionalização, ou seja, a constatação de que as ações sociais
implicam em dominação. Por sua vez, dominação é definido como a probabilidade
de ser obedecido e essa obediência só é concreta através da legitimação.
No caso dos policiais, o
poder de agir contra alguém que comete um crime, de portar uma arma de fogo,
entre outros, é racionalizado e permitido a esse grupo pela sociedade, que por
sua vez legitima o poder obedecendo a autoridade do policial e confiando em
suas mãos a segurança. A previsibilidade das ações de um policial, levando em
conta seu treinamento, seu juramento e seu dever para com a sociedade é o que
tornaria a instituição confiável.
Como qualquer ser
humano, policiais são passíveis de erros, a pressão do trabalho de um policial
é tão grande, que as taxas de suicídio entre policiais é de 23,9 a cada 100 mil, enquanto na população em geral o número é de 5,8. Esse dado mostra que não
apenas a população atacada sofre com à distribuição desigual do poder na mão
dos policiais, mas os mesmos também sofrem.
Em situações como essa, de
evidente abuso de poder, leis como o artigo 5o da Constituição Federal, que diz que todos são
iguais perante a lei não passam de uma mera expressão formal do Direito: a ideia
de igualdade contida na lei não se estende para a realidade. É claro diante de
exemplos como o de João Pedro que a norma não é aplicada com plenitude,
colocando a população periférica e negra em uma situação inferior. É por isso
que modificações no direito são necessárias e importantes nessa questão, para
transformar a norma em ações concretas e para não mais legitimar comportamentos
agressivos contra pessoas específicas e contra a sociedade em um geral.
No Brasil, mais policiais
se suicidam do que morrem em confronto. Estadão, 2019.
Disponível em: < https://exame.com/brasil/no-brasil-mais-policiais-se-suicidam-do-que-morrem-em-confrontos/>.
Franco, Luiza. Caso João Pedro: quatro crianças foram mortas em operações policiais no Rio no último ano. BBC News, 2020. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-52731882>.
Beatriz Araujo Gomes – RA:
201223066 - matutino
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