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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Tipo ideal nacional na presidência?

 É fato que, para Max Weber, o indivíduo e as representações do coletivo mesclam-se. Com isso, o Tipo Ideal, organizado pelo pensador, revela como algumas situações contemporâneas parecem tão claras nesse viés, como, por exemplo as eleições de 2018 quando Jair Bolsonaro foi eleito o presidente do que chamamos por “nação brasileira”. Tal nação, por sua vez, o colocou como síntese de valores cujo esboço representa grande parte das principais características referentes à sociedade deste país.  

Logo, tendo em vista que o desenvolvimento aqui foi – e ainda é, posta a escravidão contemporânea - pautado sobre milhões de escravos, sendo destinados à miséria humana pela cor da sua pele, fica nítido como a sociedade brasileira reage quando a população negra clama por direitos, uma vez que esses lhes foram sempre negados. Além disso, proibidas de trabalhar, sair de casa, comprar imóveis, separar do marido ou qualquer outra coisa que seja possibilitada pelo exercício da liberdade, às mulheres foram, por séculos, negados o acesso aos direitos também, sendo a luta pela conquista e manutenção desses, diária. Junto a isso, também, pode ser analisada a forma pela qual todas essas interseccionalidades atingem grande opressão ao ter em vista o recorte classista: Direito, Política, Cultura, enquanto construídas por uma elite conservadora historicamente detentora do poder no país, revela a si própria seus interesses, expondo a equidade direito para quem lhes é interessante, a negá-los explicitamente, quase sempre sem sofrer as consequências disso. 

Portanto, numa visão Weberiana, a “energia espiritual” da comunidade - aquela que coloca a morte do indivíduo compensada quando tal equilíbrio é atingido - é posta em contraprova. Valeria, então, a mesma energia da morte de César que a morte de um moribundo? O peso da perda de uma vida do tipo ideal jovem negro periférico seria o mesmo que um senador com trinta e oito condolências em diversos jornais, eventos e revistas? Claramente, não.

Então, está enraizado na cultura brasileira como essas diferenças são expressas. Logo, num misto de relações sociais, é vista uma extrema dificuldade na dissociação dessas mazelas que assolaram e assolam o Brasil por séculos. Assim perdidos entre pensamentos de gerações, abafados por distâncias, a realidade de 2018, com o apoio das redes sociais, mostrou como os indivíduos, com seus preconceitos e ascos isolados, se uniram, expondo Jair Bolsonaro como um escopo do conservadorismo, o tipo ideal daqueles cuja cultura social se juntou, entre fios de ações sociais, tornando uma massa degradante que legitima suas repulsas ao que foge do seu igual.  

Assim, conversadores encontram a multiplicidade dessas conexões - das relações sociais oriundas das ações - no ponto de sinergia expresso pela cultura, transformando pequenos ímpetos dentro do coletivo em um poder factual, capaz de atrasar, em menos de dois anos, décadas de lutas e de sangue.  


Anita Ferreira Contreiras, 1º ano, Direito Noturno.

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