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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Breve análise weberiana da reação da sociedade brasileira frente à pandemia

    A pandemia da Covid-19 assolou o mundo e mudou definitivamente os rumos do ano de 2020. Desde a chegada do vírus ao Brasil, as medidas tomadas pelo governo do país, seja na esfera federal ou estadual, foram motivo de polêmica e insatisfação na sociedade. Alguns viam as medidas como brandas demais frente à gravidade do problema, outros como rígidas demais para o mercado. O fato é que nesse contexto mais de 120 mil pessoas morreram e a economia que era tão priorizada por setores da população também está em crise.

   A visão de Max Weber não pode ser resumida a apenas um conceito, uma vez que o próprio autor rejeita a explicação dogmática da realidade. Porém, a configuração atual da sociedade brasileira remete a algumas ideias trazidas por Weber, como a de dominação. É difícil tantos apelos para a volta das atividades comerciais e as medidas judiciais tomadas por empresários em muitas cidades para que os estabelecimentos fossem reabertos e não pensar na dominação exercida pelo mercado sobre toda a sociedade. Em tal situação, a decisão de endossar ou não o distanciamento social, que deveria ter base nas recomendações científicas, em muitos lugares ficou nas mãos do poderio econômico, que priorizou o capital.

   Contudo, não é meu objetivo afirmar que a situação financeira deve ser ignorada nessa situação. Medidas como o auxílio emergencial são direito da população vulnerável para amenizar a crise, mas é que aí aparece um dos fatores mais questionáveis da atuação do governo federal. A valor não chega a cobrir as necessidades básicas de uma família, o que leva o trabalhador a, mais uma vez, se submeter a dominação do mercado e se expor ao vírus para se sustentar. Mesmo assim, o valor de R$ 600, que é “muito para quem paga”, nas palavras do presidente, será reduzido para R$ 300 até o final do ano.

   Tal configuração permite diversas críticas ao Estado, algo que ocorre há muito na sociedade brasileira. De acordo com Jessé de Souza, as próprias ideias de Max Weber serviram para basear o conceito de patrimonialismo de autores brasileiros, que em linhas gerais, caracteriza o Estado e sua elite como “parasitas” da população. O problema dessa teoria é, segundo Jessé, a idealização do mercado e demonização do Estado. O pensamento weberiano, porém, desconstrói essa afirmativa, visto que o sociólogo reflete a ambiguidade da sociedade capitalista, onde o capital gera riqueza e desigualdade em grandes proporções. Assim, pode-se perceber uma tentativa de utilizar a sociologia de Weber para legitimar o senso comum de crítica ao Estado no atual contexto neoliberal.

   Em suma, o pensamento de Max Weber permite importantes reflexões acerca do ordenamento da sociedade frente uma situação tão atípica como a pandemia. Através desse acontecimento, consegue-se demonstrar com clareza a imperatividade capital, que tem o comando da ordem econômica e submete toda a população aos seus interesses, deixando de lado fatores básicos como a própria saúde.

 

Referências

SOUZA, Jessé de. A atualidade de Max Weber no Brasil. Revista Cult. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/a-atualidade-de-max-weber-no-brasil/>.  Acesso em 03 de Set. 2020.

BOLSONARO diz que Auxílio Emergencial será de R$ 300 por mais 4 meses. G1, Brasília, 01 de Set. 2020. Disponível em: < https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/09/01/bolsonaro-diz-que-auxilio-emergencial-sera-r-300.ghtml>. Acesso em 04 de Set. 2020.

 

Livia Mayara de Souza Rocha – 1º ano Direito – Matutino

 

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