Max
Weber, sociólogo alemão do século XX, é um dos grandes nomes para a sociologia,
juntamente com Durkheim e Karl Marx. No entanto, Weber se distanciou em
diversos aspectos das ideias de tais sociólogos, fundamentando suas próprias
teorias. Um exemplo disto é que, enquanto Marx acreditava que as relações de
poder e dominação entre os indivíduos estavam baseadas unicamente nas relações
de produção, Weber buscava explicar essas relações através de uma
teia mais complexa.
Para
ele, o materialismo histórico de Marx se equivoca ao declarar que a dominação
se faz presente apenas entre classes sociais diferentes e, nesse sentido, afirma
que ela pode se estabelecer também entre iguais. Ademais, a dominação também
não se trata de um processo que tem sentido único e, segundo o pensamento
weberiano, se em uma esfera da sociedade determinado indivíduo pode exercer
papel de dominador, em outra esfera ele pode ser o dominado. O poder e a
dominação podem-se manifestar, por exemplo, através de pequenas atitudes
cotidianas, como na escolha do nosso vocabulário. Quando um professor universitário,
que pode ter a mesma condição econômica de seus alunos, utiliza expressões técnicas
para se comunicar com os estudantes, ele está, mesmo que inconscientemente, demonstrando
seu poder, se colocando como superior por utilizar uma linguagem pouco
acessível. Assim, uma relação de dominação é estabelecida entre esse professor
e seus alunos.
Além
disso, Weber também se diferencia de Marx ao defender que é a cultura, e não os
meios de produção, o elemento responsável por promover a hegemonia de uma forma
de conduta em determinado contexto. Assim, a cultura e os valores coletivos,
para tal sociólogo, é responsável por determinar o que Weber chamada de ação
social, ou seja, a condução da vida. Podemos observar a aplicação de tal ideia
quando analisamos o caso que ocorreu em agosto de 2020 com uma menina de 10
anos de idade. A criança foi vítima, durante cerca de 4 anos, de abusos sexuais
cometidos por seu tio e acabou engravidando. A justiça determinou a
legitimidade da realização do aborto no caso da menina, no entanto, um grupo denominado
“pró-vida” se reuniu na entrada do hospital onde seria realizado o procedimento
e tentou impedir a realização do aborto. Para isso, o grupo bloqueava as
entradas do local, além de chamarem constantemente os membros da equipe médica
de “assassinos”.
Esse
triste exemplo nos mostra como as ações sociais são influenciadas pela cultura
e pelos valores de um coletivo. Segundo uma matéria da Revista Veja[1],
o grupo que protestou contra a realização do aborto era composto por membros da
religião católica e, portanto, podemos compreender que os ideais patriarcais e machistas,
pregados por muitos grupos católicos , mas também intrínsecos na sociedade
brasileira como um todo, foram capazes de influenciar cada indivíduo ali
presente e, dessa maneira, o movimento foi formado. Apesar do motim, o
procedimento foi realizado e a criança recebeu assistência médica e psicológica.
Nesse
contexto, podemos compreender que Weber busca se distanciar de teorias já
estabelecidas por outros importantes sociólogos de seu tempo, construindo um
pensamento mais abrangente no que tange as relações de poder e dominação nas sociedades.
Tais interpretações, desenvolvidas por Weber, são essenciais para ao estudo e o
entendimento de muitos fenômenos ocorridos na atualidade e, assim, apesar da
obra do autor ter sido elaborada há cerca de 100 anos, parece retratar o que
estamos vivendo hoje.
Júlia Scarpinati- 1° ano Direito- Matutino.
[1] Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/quem-sao-os-grupos-que-tentaram-impedir-o-aborto-de-menina-de-10-anos/.
Acesso em: 04 set. 2020
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