O
Fato e a Solidariedade Para o Organismo Social
No mundo contemporâneo, as pessoas vivem segundo
regras. Essas regras podem ser tanto positivadas, como legislações, ou no
imaginário e no ser popular, como crenças e costumes. Um indivíduo não pode roubar:
se o fizer, segundo a lei, sofrerá sanções o transgressor, e a vítima terá seu
objeto restituído ou alguma compensação. Dessa forma, nota-se que a sociedade
contemporânea busca impedir qualquer ato que possa causar – ou cause – uma destruição
do funcionamento contínuo e “normal” da sociedade. Não só se pune o
transgressor da norma, como também se restitui o “algo perdido”, ou seja, se
faz com que o momento de ordem vivido anteriormente pela sociedade volte ao
estado em que se encontrava – de “paz”, harmonia, de correto funcionamento
segundo os padrões sociais. Não pode, também, um indivíduo de certa religião
agir contrariamente aos padrões estabelecidos por ela: se assim o fizer, sua
vida cotidiana se tornará muito difícil, já que ele sofrerá consequências por desviar
do “normal funcionamento” dessa sociedade, tornando-se, desse modo, algo não
pertencente ao social. Assim, percebe-se que essas regras, positivadas ou não,
se tratam de fatos sociais, já que são exteriores ao indivíduo – antes mesmo da
pessoa nascer, instituições que determinam seu modo de viver já existem -,
gerais – todos os “socialmente corretos” seguem e obedecem os fatos – e coercitivos
– o indivíduo pode até desviar das normas estabelecidas pelo fato social,
porém, ao fazê-lo, sofre tantas sanções ou dificuldades em sua vida que é
levado a agir de forma concordante aos fatos. Vários são os exemplos de ocorrências
desse tipo na sociedade brasileira, como o caso de Geisy Arruda: ao comparecer
a faculdade em que estudava vestindo uma mini saia, foi hostilizada por quase
que o edifício inteiro – inclusive por professores -, o que mostra que, ao desviar
da conduta considerada correta nas mentes das pessoas daquela faculdade, Geisy foi
de encontro a um fato social, o que causou um estado de anomia naquele espaço, levando
assim a aqueles atos absurdos de hostilização contra a, na época, estudante.
Um fato importante de salientar-se nesse
acontecimento foi o de que, mesmo as pessoas que não compartilhavam do
sentimento de ódio a Geisy Arruda por vestir aquela vestimenta na faculdade, deixaram-se
levar pelo sentimento da multidão, do grupo, e acabaram agindo da mesma forma.
Isso mostra que o ser humano, justamente por ser um ser social, tem a
necessidade de fazer parte da sociedade – no caso, aqueles que não compartilhavam
o sentimento de raiva, por estarem em minoria, sentiram-se excluídos do grupo
e, assim, começaram a agir da mesma forma odiosa que a maioria, a fim de “socializar-se”
– por mais absurda que a socialização nesse caso seja - com os demais.
Também, a partir desse fato, nota-se que a
sociedade é, na verdade, todo um corpo social. As pessoas, para manterem o
funcionamento desse corpo, agem de forma solidária, muitas vezes abdicando de
seus próprios interesses – de forma consciente, individual – e fazendo sua
parte na sociedade, como o correto agir em relação a conduta de um trabalhador
do metrô da Cidade de São Paulo. Esse tipo de solidariedade, em que os
indivíduos de forma autônoma e individual tomam iniciativas para a boa convivência
social é, segundo Durkheim, a solidariedade orgânica. Exemplos dessa
solidariedade orgânica no Brasil hoje em dia é o ato de as pessoas, ao saírem
de casa, utilizarem as máscaras para evitar a transmissão do coronavírus, por
mais que esse utilizar a máscara as cause desconforto. É claro que existem
desviantes dessa norma, como o caso conhecido do desembargador em Santos,
porém, como visto, a sociedade – pelo menos grande parte – voltou-se contra
ele, tanto na questão da sanção legal por ele sofrida, quanto pela questão do
desprezo popular a ele direcionado. Assim, no Brasil contemporâneo, as pessoas,
consoante o pensamento de Émile Durkheim, seriam nada mais do que órgãos – cuja
individualidade existe – trabalhando para o bom funcionamento do corpo social. Esse
pensamento, independentemente de estar totalmente correto ou não, mostra como
que no mundo contemporâneo as pessoas agem, influenciadas por diversos fatos sociais,
para manter a sociedade em sua mais possível forma harmoniosa.
Vitor
Nakao Tersigni – 1° Ano Direito – Período Diurno
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