Desde os primórdios de seu
surgimento, o Direito foi visto como um instrumento regulador e mantenedor da
ordem de uma determinada sociedade, a qual adere às suas próprias regras e
leis. O Direito tem como por base reger a norma e garantir a igualdade entre os
indivíduos por ele dirigidos. Todavia, a igualdade que o Direito democrático
tanto enfatiza não pode ser uma igualdade plena, pois alguns possuem melhores
oportunidades que outros, dessa forma, existe a equidade, que deve estabelecer
medidas para que os menos favorecidos possam chegar a igualdade dos mais
favorecidos.
Dessa forma, o autor Boaventura de
Sousa Santos, acredita que o direito possa ser uma forma de emancipação e não
só de regulação, pois este passou por muitas mudanças ao longo dos séculos e por
consequência aderiu a diversos direitos às classes sociais que não são
dominantes, os quais podem ser considerados emancipatórios, e não só
reguladores.
O cenário social brasileiro,
atualmente, enfrenta muitas desigualdades, muitas dessas herdadas pelo
histórico de preconceitos e inferiorização no Brasil. O preconceito étnico ainda
é muito presente, mesmo que a cultura e a “etnia brasileira” seja fruto de
miscigenação de diversas etnias. Isso mostra enraizamento de ideias, muitas
vezes não coerentes, em torno de toda uma sociedade.
Devido a isso existem vários direitos
que garantem melhorias a diversas minorias sociais, como por exemplo as cotas
para negros e pardos, as quais surgiram devido ao fato do preconceito ainda
existente e do histórico escravista e intolerante no Brasil. As cotas raciais
podem ser consideradas prematuras formas de emancipação no Direito brasileiro
no âmbito da questão étnica, pois elas de fato garantem benefícios a minorias
historicamente prejudicadas, mas elas não são o bastante para garantir plena
igualdade a todos os cidadãos. A igualdade ainda está muito distante de ser
alcançada, não só na questão étnica, mas também gênero, sexualidade e econômica.
As cotas raciais possibilitam o
ingresso de jovens negros e pardos em uma universidade, o que provavelmente
seria de maior dificuldade sem as cotas, não porque esses não tenham capacidade
ou inteligência o suficiente, mas sim porque historicamente faltam
oportunidades para que alcancem seus objetivos. Mesmo que a partir das cotas o
preconceito não obteve melhora, elas são bastantes importantes e necessárias para
maior inclusão e são pequenos passos para uma igualdade no futuro.
Muitos brasileiros, comumente
extremistas de direita da atualidade, acreditam numa “sociedade de meritocracia”,
a qual faria com que nenhuma classe, nem as desfavorecidas, possuíssem direitos
que as auxiliassem. O conceito de meritocracia é irrisório em uma sociedade que
não consegue oferecer oportunidades igualitárias a todos, pois de alguma forma,
uma classe sempre estará sendo privilegiada, que no caso seria a classe de
homens, brancos, heterossexuais e ricos.
Portanto o direito usado como
instrumento social para a emancipação é muito importante, pois sem essa sua
função, a sociedade passa a ser uma “meritocracia” não embasada. O Direito emancipatório
garante diversos direitos e deve continuar seguindo tais passos rumo a
igualdade, mesmo que essa possa ser inalcançável, deve ser considerada uma
meta.
Emily Caroline Costa da Cunha - Direito - 1º ano (diurno)
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