Os
Sandros de todos os dias e as condições materiais de existência
12 de junho de 2000, Rio
de Janeiro, Brasil. Sandro Barbosa Nascimento, 22 anos de idade. Linha 174, 14h20 de segunda-feira.
Sandro adentra o ônibus e anuncia o assalto. Motorista, cobrador e alguns
passageiros conseguem fugir, restando apenas onze reféns. Foram horas de negociação
do mesmo com a polícia. O resultado: duas mortes da mesma noite. Geísa Firmo Gonçalves, usada como escudo humano por
Sandro, e a do próprio Sandro.
Seria mais uma historia comum do dia-a-dia carioca se não fossem duas
coisas: o histórico do assaltante e a sua morte.
Sandro assistiu `a morte de sua mãe aos oito anos de idade, por
decapitação, na favela em que morava. Após isso, passou a morar nas ruas.
Frequentava a igreja da Candelária, onde recebia comida e abrigo. Ali, fez
amizade com vários outros menores de rua. No dia 23 de julho de 1993, Sandro
presenciou o massacre da Candelária, que resultou em 8 mortes. Ele mesmo não
ficou ferido no incidente. Sete anos depois, “Mancha”, nome adotado por Sandro,
foi o protagonista de um dos assaltos mais impactantes, tanto pelo despreparo
da policia, quanto pelo seu resultado.
Foram quase 5 horas dentre o anúncio do assalto até o seu fim. Findada a
morte da professora Geisa, gravida de dois meses, Mancha foi levado para dentro
da viatura. Enquanto a população, revoltada, queria linchá-lo, a policia,
dentro do veículo, o mata asfixiado. Ao alegar a morte acidental, os policiais foram
julgados e inocentados.
O trágico ocorrido remete a um dos pensamentos de Marx: as condições
materiais de existência. Sandro nasceu em um sistema capitalista em que o
dinheiro compra tudo, até mesmo a felicidade. Na infância, viu sua mãe morrer
por uma falha de segurança do Estado e não obteve a oportunidade de regeração
pelo ensino necessário. Quando adolecente, viciado e drogas, não possuiu o
tratamento preciso para se livrar das mesma, entrando de vez no crime. Quando
adulto, apenas continuou a viver a vida como o habitual desde a juventude.
De fato, ao analisar a vida de todos os Sandros com a de outras pessoas de
classses sociais mais altas, percebe-se a não isonomia. A falta de condições
materiais levam a não concretização do processo. Uma consequência triste do
capitalismo selvagem em que vivemos.
Mais Sandros surgirão, mais Geisas serão mortas. Mas uma coisa será constante:
o sangue dos inocentes estará nas mão do capitalismo sujo em que vivemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário