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sexta-feira, 11 de março de 2016

A razão nos tempos da emoção

Em certo ponto de seu “Discurso Sobre o Método”, René Descartes, durante o detalhamento do método que utiliza para, por meio da razão, encontrar a verdade, aponta quatro preceitos lógicos essenciais. São eles: não aceitar nada como verdadeiro a menos que não restasse sobre tal objeto qualquer dúvida sobre, repartir dificuldades para que assim fossem melhor analisadas e solucionadas, ordenar o pensamento por ordem crescente de dificuldade dos objetos de estudo e, por fim, garantir-se de tornar suas análises as mais completas possíveis.

Tal texto de Descartes data de 1637, mas sua discussão sobre o uso de razão se faz mais do que necessária na contemporaneidade, quando o enorme alcance das redes sociais incita ainda mais a discussão rasa sobre assuntos importantes no ambiente virtual, onde as pessoas parecem estar mais interessadas em apenas emitir opiniões do que propriamente construí-las após um detalhado estudo crítico sobre as mesmas, como fazia o filósofo francês em sua conhecida busca pelo conhecimento verdadeiro.

Essa situação tem sido comumente encontrada principalmente no que diz respeito a debates sobre temas polêmicos, como a crise política, a união homoafetiva, o aborto, as cotas raciais, dentre outros. Nestes assuntos específicos, a questão torna-se ainda mais grave por serem temas importantes para a realidade social do país, o que faz com que devessem ser amplamente discutidos antes que fossem formadas as opiniões concretas, em uma discussão que poderia muito bem se valer do método proposto por Descartes, que sugere um verdadeiro debruçamento sobre a questão (abrangendo e questionando todos os seus aspectos e certificando-se de que todos eles foram considerados) antes que se possa tomar uma posição para si como verdadeira.

Quando não se faz tal análise racional e parte-se para o debate com apenas uma visão superficial do assunto, normalmente a discussão se encaminha para um lado muito mais emocional, ocasionando radicalismos, argumentações frágeis, ofensas e, pior ainda, impedindo que estas questões – tão essenciais, como já mencionado anteriormente – possam ter medidas relativas a si efetivadas.

Este esvaziamento do debate tem sua origem também na ausência de entendimento mediante a complexidade dos temas, ponto também entendido como um preceito fundamental para Descartes, uma vez que é impossível buscar entender e discutir um assunto de grande abrangência e complexidade sem antes adentrar seus pormenores, de complexidade evidentemente menor e nem por isso menos relevantes. Por exemplo, é impossível debater a questão das cotas raciais sem antes efetivar-se um detalhado estudo sobre a origem do racismo no Brasil ou a questão da união homoafetiva sem buscar compreender a luta histórica das minorias e o detalhamento jurídico por trás do caso.


Dessa forma, mesmo muitos séculos depois, mostra-se novamente uma necessidade de maior uso da razão quando da abordagem de qualquer tipo de tema, desde os mais simples ao mais complexos. Não basta apenas saber do que se trata a questão para assumir um lado como puramente verdadeiro, é preciso conhecer. E para conhecer, é preciso questionar.

Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
Direito Matutino 1º Ano

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