Em certo ponto de seu “Discurso Sobre o Método”,
René Descartes, durante o detalhamento do método que utiliza para, por meio da
razão, encontrar a verdade, aponta quatro preceitos lógicos essenciais. São
eles: não aceitar nada como verdadeiro a menos que não restasse sobre tal
objeto qualquer dúvida sobre, repartir dificuldades para que assim fossem
melhor analisadas e solucionadas, ordenar o pensamento por ordem crescente de
dificuldade dos objetos de estudo e, por fim, garantir-se de tornar suas
análises as mais completas possíveis.
Tal texto de Descartes data de 1637, mas sua
discussão sobre o uso de razão se faz mais do que necessária na
contemporaneidade, quando o enorme alcance das redes sociais incita ainda mais
a discussão rasa sobre assuntos importantes no ambiente virtual, onde as
pessoas parecem estar mais interessadas em apenas
emitir opiniões do que propriamente construí-las
após um detalhado estudo crítico sobre as mesmas, como fazia o filósofo
francês em sua conhecida busca pelo conhecimento verdadeiro.
Essa situação tem sido comumente encontrada
principalmente no que diz respeito a debates sobre temas polêmicos, como a crise
política, a união homoafetiva, o aborto, as cotas raciais, dentre outros.
Nestes assuntos específicos, a questão torna-se ainda mais grave por serem
temas importantes para a realidade social do país, o que faz com que devessem
ser amplamente discutidos antes que fossem formadas as opiniões concretas, em
uma discussão que poderia muito bem se valer do método proposto por Descartes,
que sugere um verdadeiro debruçamento sobre a questão (abrangendo e
questionando todos os seus aspectos e certificando-se de que todos eles foram
considerados) antes que se possa tomar uma posição para si como verdadeira.
Quando não se faz tal análise racional e parte-se
para o debate com apenas uma visão superficial do assunto, normalmente a
discussão se encaminha para um lado muito mais emocional, ocasionando
radicalismos, argumentações frágeis, ofensas e, pior ainda, impedindo que estas
questões – tão essenciais, como já mencionado anteriormente – possam ter
medidas relativas a si efetivadas.
Este esvaziamento do debate tem sua origem também na
ausência de entendimento mediante a complexidade dos temas, ponto também entendido
como um preceito fundamental para Descartes, uma vez que é impossível buscar
entender e discutir um assunto de grande abrangência e complexidade sem antes
adentrar seus pormenores, de complexidade evidentemente menor e nem por isso
menos relevantes. Por exemplo, é impossível debater a questão das cotas raciais
sem antes efetivar-se um detalhado estudo sobre a origem do racismo no Brasil
ou a questão da união homoafetiva sem buscar compreender a luta histórica das
minorias e o detalhamento jurídico por trás do caso.
Dessa forma, mesmo muitos séculos depois, mostra-se
novamente uma necessidade de maior uso da razão quando da abordagem de qualquer
tipo de tema, desde os mais simples ao mais complexos. Não basta apenas saber do que se trata a questão para
assumir um lado como puramente verdadeiro, é preciso conhecer. E para conhecer, é preciso questionar.
Luiz Antonio Martins Cambuhy Júnior
Direito Matutino 1º Ano
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