Um poeta, um político
e uma cientista: essas são as coordenadas do filme Ponto de Mutação, filme que
aborda, sob os diferentes ângulos das personagens, questionamentos do ser
humano ao longo do progresso técnico-científico da humanidade. No decorrer do
filme ,percebe-se nitidamente, sobre as questões analisadas, a focalização
humana do poeta, a visão pragmática do
político(então derrotado na última eleição) e a frustração da cientista com a
aplicabilidade da ciência contemporânea. Assim, o que unirá essas três personagens
aparentemente tão distintas é a inerente e persistente questão sobre existência
humana. Dentre as diversos
assuntos abordados, destaca-se a crítica da cientista Sonia a despeito da visão
cartesiana, segundo a qual fragmenta-se a realidade para se obter o verdadeiro
conhecimento. Segundo a cientista, essa visão reducionista da sociedade, tornou-a
mecanicista,contudo ressalta que apesar desta visão ter sido fundamental para o
progresso da ciência em todos os seus âmbitos ,não deve ser considerada uma verdade atemporal,devendo ser
superada a medida que a complexidade do organismo social aumenta. Defende ainda,
que os problemas globais devem ser encarados como fatores interligados e não
isolados. Como exemplo, ela lembra do desmatamento da Amazônia, que, se por uma
lado, produz soja e carne,por outro, produz problemas de saúde e agrava o
efeito estufa. Uma boa metáfora que bem sintetiza o pensamento de Sonia e que é,
em última instância,a tese defendida pelo filme em si é –lembro aqui da aula do
Tio B-: o que une as raízes,os frutos, as folhas de uma árvore é o fato de que
todos esses elementos antes de serem raízes,frutos ou folhas são árvore. A conclusão é
que tal pensamento fragmentado fez com que a sociedade pensasse apenas em
suprir seus desejos imediatistas, despreocupando-se com as consequências para
as gerações futuras. Assim, nesse
tortuoso caminho que a ciência percorreu,recorro ao meu último post, que aborda
a questão da parciabilidade da ciência, isto é, sua não neutralidade, já que, enquanto
o progresso da ciência deveria estar
ao alcance de todos,o que se percebe é
que torna-se ,na maioria das vezes,
acessível apenas para uma minoria. Nesse ponto, este artigo “conversa “com o
filme, quando Sonia cita sua pesquisa, a
qual foi articulada indesejavelmente para fins militares. Esse filme vai no
cerne dos problemas atuais,pois trata também o paradigma dos limites da ética. Quantos não são os médicos,
cientistas, políticos ou escritores que, para fazerem parte do “sistema” têm de
se submeter , muitas vezes, a situações das quais não gostariam?. Enfim, a
densidade do filme é tamanha que seria
REDUCIONISMO fazer aqui apenas uma conclusão, portanto, acredito que cabe a cada um de nós
refletirmos sobre nossas atitudes e juízos de valor que temos carregado em sociedade,para que não
se torne futuramente um fardo pesado demais não só para nós,mas para o futuro
da humanidade também, pois como já dito por John Donne:” – Nenhum homem é
uma ilha, isolado em si
mesmo”.
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