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segunda-feira, 4 de abril de 2022

A ansiedade de Descartes

 

A base do pensamento de Descartes é a dúvida. Descartes está constantemente se questionando sobre tudo ao seu redor, inclusive sobre como pode comprovar sua própria existência, e a conclusão à que ele chega é que a incerteza é o que guia a busca pelo conhecimento, um pensamento que se mostra original pela ausência de medo do incerto. Ao contrário de outros pensadores e de grande parte da sociedade, Descartes não tem medo de não poder confirmar a veracidade de suas ideias e não tenta impor sua visão da verdade como absoluta, ele entende outras perspectivas e aprecia o questionamento. 

Há filosofias que apresentam a relação menos amigável que os seres humanos têm com a dúvida constante, como o contratualismo, por exemplo. Hobbes elaborou ideias sobre o acordo entre o povo e os governantes, uma delas sendo o motivo pelo qual nos deixamos ser governados. Para ele, isso está diretamente ligado ao medo que sentimos do desconhecido. Quando livres, os homens são selvagens e imprevisíveis, recorrem frequentemente à violência e utilizam da força para manter domínio sobre suas posses, o que leva ao caos e destruição de forma aleatória e incontrolável, gerando o medo do que pode acontecer. Esse medo é um dos aspectos que nos faz abdicar da nossa liberdade em troca de proteção e segurança, diminuindo os imprevistos e controlando a população. Ou seja, para os contratualistas, o incerto é tão apavorante que para nos protegermos dele abrimos mão de um dos únicos direitos que temos ao nascer, a liberdade. 

    Apesar desse acordo e seus fundamentos serem apenas teóricos, partes dele são nítidas ao observar o corpo social. Mesmo com a proteção do governo, o medo das surpresas preparadas pelo futuro está muito presente no nosso cotidiano, como demonstrado pela ansiedade. A ansiedade nada mais é que um sentimento de angústia e tensão por ameaças que podem ou não existirem, ela afeta as pessoas física e mentalmente, causando arritmias, falta de ar, tontura e etc pela preocupação com as coisas que podem vir a acontecer. Portanto, quando Descartes mostra apreço pela incerteza, ele não só está inovando a filosofia e sua construção, como também está nos desafiando a encarar o desconhecido e transformar nosso medo em combustível para o estudo. 

    Foi dessa forma que ele passou a questionar a filosofia clássica, que, à sua visão, se provou inútil, já que os filósofos clássicos apenas estudavam e ensinavam sobre o mundo, mas não procuravam intervir nele e não tinham compromisso com a mudança, ambas ações necessárias para o surgimento de novos questionamentos. E então surgiu a famosa frase “penso, logo existo”, Descartes utilizou suas perguntas para elaborar um conhecimento baseado na razão, fugindo dos estigmas sociais deixados pela confiança nas superstições e no mágico, que atrasam o nosso avanço. Ele abraçou o medo e o converteu em ciência, procurando sempre mais dúvidas e utilizando delas e da observação do ambiente ao seu redor para respondê-las, mesmo que não fosse chegar a conclusões exatas.

Beatriz Moraes Rodrigues de Oliveira

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