Incompatibilidade: partição e modernidade
Seja
qualquer uma das visões adotadas para a análise e discussão da Ciência Moderna –
Descartes ou Bacon – de forma inegável, elas se encontram na ruptura com o seu
respetivo passado, um passado marcado pela Filosofia Clássica e dogmas
religiosos. A princípio, tal ruptura demonstra-se válida, já que ao analisarmos
os fundamentos encontramos que o objetivo principal era propor um novo método
científico, o qual pudesse gerar feitos práticos em sociedade e melhorar a vida
dos indivíduos.
Contudo, como
toda decisão manifesta uma renúncia, tal ruptura, na realidade, gerou também impactos
negativos. Claramente, o avanço científico que as proposições de Descartes e Bacon
trouxeram são inegáveis, já que foi a primeira vez em que houve a
sistematização do conhecimento científico, com Descartes defendendo a razão e Bacon
aliando a experiência à razão, eles apresentaram uma nova forma de enxergar e
realizar a ciência, o que melhorou a qualidade de vida humana. Porém, ao
sistematizar e defender a partição no ato científico, sistematizaram e
repartiram a vida como um todo. O que quero dizer é que o mundo, as relações e as
pessoas tornaram-se (dentro dessa perspectiva) meros objetos científicos, logo,
mediante um problema divide-se a culpa para cada um, sistematizamos uma solução
e "voilà": não há resolução alguma.
Dentro
disso, a irresolução de muitos problemas sociais modernos tem origem justamente
nessa partição e sistematização, baseados no novo método científico. Como
exemplo, desigualdade social e concentração de renda no mundo são problemas interligados,
que tem causas e soluções em cada lugar do mundo, porém, é sempre analisado
como um problema exclusivo e único de um lugar, a origem do problema em si
nunca é apresentada ou estudada, por isso, a ineficiência moderna em resolver
muitas coisas. Os seres, as relações, as coisas e objetos; estão todos
interligados, em uma relação de interdependência entre si, o novo método científico
gerou uma repartição da vida humana, repartição essa que impede o avanço e
desenvolvimento pleno da sociedade diante dos seus problemas modernos.
Ademais, a
filosofia clássica foi grande responsável na discussão de questões como: ética,
moral, vida em sociedade, política e outros, temas e assuntos que permeiam a
vida de todos os homens. Dentro desse campo de discussão, ainda que não tenham
produzidos feitos práticos e avanços materiais, os gregos foram responsáveis
pelo desenvolvimento intelectual e pessoal dos homens do período, assim, ao
adentrar na Ciência Moderna e romper com o conhecimento produzido pelos
filósofos, deixamos pra trás grande parte da constituição intelectual do ser,
esquecemos de grande parte que é responsável por formar o desenvolvimento
pessoal do indivíduo, bem como a sua capacidade pensante.
Com isso,
concluo que o método científico proposto por Descartes e Bacon foi, de fato,
benéfico e altamente vantajoso para a sociedade. Contudo, mediante análise, tal
método gerou uma repartição da vida, uma segregação de pessoas e partes, que
são concebidas como parte de problemas e nunca em sua totalidade de ser humano,
uma visão e concepção dos indivíduos que se demonstra incompatível com a
conjuntura atual, que exige a compreensão e percepção dos indivíduos como um
todo, e não apenas como parte integrante de um corpo social. Além disso, observa-se também que as rupturas
propostas por eles causaram uma insensibilidade do ser moderno, uma vez que não
se preocupar com questões fundamentadas no exercício mental e sem efeitos
práticos imediatos, o ser se tornou mecanizado, buscando resultados e
resultados, como uma máquina, como um homem moderno.
Julia Samartino
1° ano Direito - Matutino
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