Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 4 de abril de 2022

 Incompatibilidade: partição e modernidade 

          Seja qualquer uma das visões adotadas para a análise e discussão da Ciência Moderna – Descartes ou Bacon – de forma inegável, elas se encontram na ruptura com o seu respetivo passado, um passado marcado pela Filosofia Clássica e dogmas religiosos. A princípio, tal ruptura demonstra-se válida, já que ao analisarmos os fundamentos encontramos que o objetivo principal era propor um novo método científico, o qual pudesse gerar feitos práticos em sociedade e melhorar a vida dos indivíduos.

           Contudo, como toda decisão manifesta uma renúncia, tal ruptura, na realidade, gerou também impactos negativos. Claramente, o avanço científico que as proposições de Descartes e Bacon trouxeram são inegáveis, já que foi a primeira vez em que houve a sistematização do conhecimento científico, com Descartes defendendo a razão e Bacon aliando a experiência à razão, eles apresentaram uma nova forma de enxergar e realizar a ciência, o que melhorou a qualidade de vida humana. Porém, ao sistematizar e defender a partição no ato científico, sistematizaram e repartiram a vida como um todo. O que quero dizer é que o mundo, as relações e as pessoas tornaram-se (dentro dessa perspectiva) meros objetos científicos, logo, mediante um problema divide-se a culpa para cada um, sistematizamos uma solução e "voilà": não há resolução alguma.

          Dentro disso, a irresolução de muitos problemas sociais modernos tem origem justamente nessa partição e sistematização, baseados no novo método científico. Como exemplo, desigualdade social e concentração de renda no mundo são problemas interligados, que tem causas e soluções em cada lugar do mundo, porém, é sempre analisado como um problema exclusivo e único de um lugar, a origem do problema em si nunca é apresentada ou estudada, por isso, a ineficiência moderna em resolver muitas coisas. Os seres, as relações, as coisas e objetos; estão todos interligados, em uma relação de interdependência entre si, o novo método científico gerou uma repartição da vida humana, repartição essa que impede o avanço e desenvolvimento pleno da sociedade diante dos seus problemas modernos.

          Ademais, a filosofia clássica foi grande responsável na discussão de questões como: ética, moral, vida em sociedade, política e outros, temas e assuntos que permeiam a vida de todos os homens. Dentro desse campo de discussão, ainda que não tenham produzidos feitos práticos e avanços materiais, os gregos foram responsáveis pelo desenvolvimento intelectual e pessoal dos homens do período, assim, ao adentrar na Ciência Moderna e romper com o conhecimento produzido pelos filósofos, deixamos pra trás grande parte da constituição intelectual do ser, esquecemos de grande parte que é responsável por formar o desenvolvimento pessoal do indivíduo, bem como a sua capacidade pensante.

         Com isso, concluo que o método científico proposto por Descartes e Bacon foi, de fato, benéfico e altamente vantajoso para a sociedade. Contudo, mediante análise, tal método gerou uma repartição da vida, uma segregação de pessoas e partes, que são concebidas como parte de problemas e nunca em sua totalidade de ser humano, uma visão e concepção dos indivíduos que se demonstra incompatível com a conjuntura atual, que exige a compreensão e percepção dos indivíduos como um todo, e não apenas como parte integrante de um corpo social.  Além disso, observa-se também que as rupturas propostas por eles causaram uma insensibilidade do ser moderno, uma vez que não se preocupar com questões fundamentadas no exercício mental e sem efeitos práticos imediatos, o ser se tornou mecanizado, buscando resultados e resultados, como uma máquina, como um homem moderno.

Julia Samartino 

1° ano Direito - Matutino 

Nenhum comentário:

Postar um comentário