Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 4 de abril de 2022

A superioridade da vontade e dos afetos

Na busca pela verdade, utilizemos o método cartesiano para a construção do raciocínio que proponho:

  A humanidade não é um referencial absoluto e universal, ou seja, é raso pautar e justificar qualquer ação a partir de uma hipotética superioridade humana, como defendiam os filósofos modernos. (1-Evidência).

  Nesse sentido, analisaremos essa proposição a partir de duas perspectivas (2-Análise), partindo da mais simples para a mais complexa (3-Ordem\Síntese) e finalizando com a conclusão e retomada de conceitos(4-Enumeração).


  Como primeira parte da questão, constata-se que o Homem não é descolado da natureza, como se assumisse o papel de uma entidade distante e superior: a humanidade é, na verdade, parte integrante desse organismo natural. Nesse sentido, a defesa de um uso instrumental da natureza, pautada no domínio, exploração e tecnicismo por parte do homem, assim como formulado por Francis Bacon, apenas reforça um pensamento predatório que não mais pode ser aceito, como foi na Modernidade.

Como segundo ponto, acrescenta-se que é incoerente que o ser humano justifique uma dita “superioridade” utilizando enquanto critério a posse de consciência e da razão, quando o entendimento desses conceitos está pautado exclusivamente em parâmetros humanos. Por não encontrar, em uma busca superficial, animais que utilizem a exata mesma forma de linguagem ou organização, o Homem logo conclui que todos os demais seres não possuem consciência e que são, portanto, inferiores. Essa constatação racionalista diverge de estudos recentes, como a relevante Declaração Cambridge Sobre a Consciência Animal, que explicitam a existência de diferentes níveis de autoconsciência, linguagem, relacionamentos sociais e sentimentos em outras espécies animais que, apenas por não se expressarem de forma idêntica à humana, são inferiorizadas e exploradas.

Dessa forma, pode-se perceber claramente as incoerências de atribuir ao Homem o protagonismo da existência universal, tanto por conta do seu pertencimento à natureza que afirma explorar, quanto pela simplicidade de seu entendimento acerca de outras manifestações de vida. Assim, os preceitos da filosofia moderna expostos mostram-se obsoletos por serem moldados em prol de uma justificativa de exploração da natureza que não mais se sustenta, indicando que a verdadeira superioridade, pelo menos sobre o Homem, é a dos interesses, de forma que como ressaltado pelo próprio Bacon, “o intelecto humano recebe influência da vontade e dos afetos”.

                                                                                 

Isabella Neves- Direito Matutino, 1º ano


Nenhum comentário:

Postar um comentário