Lendo Descartes ou Francis Bacon, percebe-se que o séc. XVII permanece espantosamente atual e presente quando se trata da relação sociedade-ciência existente. “A lógica tal como é hoje usada mais vale para consolidar e perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que para a indagação da verdade, de sorte que é mais danosa que útil.”, disse Bacon, há mais de 3 séculos, apesar de parecer uma proposição que poderia ter sido feita por qualquer pensador contemporâneo, analisando qualquer situação em que a opinião e a crença pessoal se confundem com fatos.
Assim, pode-se acreditar, tal qual a teoria cartesiana, que o ensino tradicional é “estéril” e não gere quaisquer frutos pela sua forma de ver o mundo; nas escolas, prega-se, para além da figura autoritária de um único representante do saber, uma cultura de não criação de senso crítico, de não incentivo da dúvida. Ora, se nas tradicionais provas há sempre respostas corretas e únicas para perguntas complexas, onde há espaço para questionamento, para aprofundamento em temas importantes? Se o conhecimento, passado por boa parte da vida como algo fechado e imutável, não é ensinado de forma científica, com embasamentos e eternas brechas para questionamentos, torna-se difícil o progresso da sabedoria, em termos amplos.
Para além disso, a questão religiosa se encontra tão forte hoje quanto no período vivido por Bacon e Descartes. No Brasil, por exemplo, percebe-se um crescente número de adeptos a extremismos religiosos, que negam de toda forma a ciência, em nome de um deus criador de tudo e todos, perfeito, contrariando a ideia de conciliação do racional com o divino de Descartes: "Mas ela [a razão] nos dita que todas as ideias ou noções devem ter algum fundamento de verdade, pois, senão, não seria possível que Deus, que é absolutamente perfeito e verdadeiro, as tivesse posto em nós.".
Afinal, após um período relativamente grande de valorização da ciência por meio, por exemplo, da grande adesão às campanhas vacinais, vê-se que no momento atual se vive uma gradual dispensa da razão e do ideal de racionalidade popularizado por Descartes e Bacon em suas propostas de métodos. No fim, talvez nem tenhamos saído das ideologias de séculos que pareciam distantes, apenas nos acostumamos com uma breve tendência de crença na ciência. Patrícia de O. André - Direito noturno, 1° ano
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